Opinião

Vital Brasil II

19/02/2016

Vital Brasil II

Leondenis Vendramim é professor de Filosofia, Ética e História (Foto: Leondenis Vendramim/Arquivo pessoal)
Leondenis Vendramim é professor de Filosofia, Ética e História (Foto: Leondenis Vendramim/Arquivo pessoal)

ARTIGO | As pesquisas assinadas pelo Dr. Vital Brasil são pioneiras na produção dos soros específicos contra venenos de animais peçonhentos. Até hoje, salvam milhares de vidas. Tais pesquisas romperam paradigmas e contribuíram à inovação de conceitos e práticas nas ciências médicas e biológicas. Nenhum outro método de neutralização da peçonha é mais eficaz do que o criado por Vital Brasil em 1898. Entre os numerosos legados deixados por ele, destacam-se a criação do Instituto Butantã (fundado em 1901 como Instituto Soroterápico de São Paulo) e do Instituto Vital Brasil, (em 1919, em Niterói). Ambas as instituições tornaram-se referenciais de excelência na formação de pesquisadores, na produção de medicamentos e na divulgação e popularização das ciências no país. Atualmente o Instituto Butantã integra a USP onde se dedicam às pesquisas biotecnológicas, fabrica de vacinas, remédios, e é o maior fabricante de soros contra veneno de cobras, aranhas e outros peçonhentos do mundo.
Vital foi cofundador da Revista Médica de São Paulo e escreveu vários artigos nela publicados; escreveu livros “A Defesa Contra o Ophidismo” (1911) e ”Memória Histórica do Instituto Butantã” (1941).
Quando Vital Brasil visitou New York um homem foi mordido por uma crotalus Atrox (cobra mais venenosa da América). O médico Dr. Ditmars, especialista nessa área e o Diretor do hospital onde a vítima fora internada, vendo que o homem ia a óbito procuraram o doutor brasileiro. Diz Vital Brasil: “… encontramos o doente em estado desanimador… Aconselhamos que fosse aplicado logo o soro anticrotálico. Seis horas após a sua aplicação o doente melhorou e depois, considerado livre do perigo…” (Homens que Fizeram o Brasil, p. 242). Esse incidente fez com que o Dr. Vital tivesse reconhecimento e respeito da classe médica internacional.
Num congresso no Rio de Janeiro, Vital Brasil injetou veneno de cascavel em doses iguais em quatro pombos; em dois aplicou o soro antiofídico e disse que os outros dois morreriam. Ao findar o congresso os 4 permaneciam imóveis. Ridicularizaram o médico e o soro, mas o Doutor gritou com os pombos, e dois saíram voando. A plateia aplaudiu o cientista, ao comprovar a eficácia do soro antiofídico.
Ele era médico filantropo, muito humano. Quando ia ao instituto Butantã, visitava enfermos mais pobres das imediações. Como gratidão, um italiano escreveu em letras garrafais na porta de seu comércio: “Avenida Vital Brasil”, e é hoje uma das avenidas mais importantes da região, na cidade de São Paulo.
Diz Luiz Waldvogel: “O médico adorava crianças e teve 21 filhos”. O filho Lael recorda a dedicação do pai: “Vivia entre a casa e o trabalho, os momentos de folga ele passava em frente ao rádio, acompanhando o noticiário da BBC de Londres. Só perdia a calma ao ver alguma arma por perto, embora tenha trabalhado na polícia. Os filhos queriam brincar com revólveres de chumbo e estilingues, mas eram proibidos. Se nos flagrasse atirando pedra em passarinho, ficava uma fera”.
Em 1917 Vital Brasil recebeu a patente do soro antiofídico e imediatamente doou-a para o governo federal. Sua preocupação era com a saúde pública.
Em 1948 foi chamado por José Queiroz Guimarães de “Apóstolo da Ciência e Benfeitor da Humanidade”. Hamiltom Nogueira disse que “a obra científica de Vital Brasil eleva o autor e dignifica a cultura brasileira”. Rui Barbosa: “É com sincero entusiasmo que expresso a minha admiração para com esta casa (Inst. Butantã)… Felizes de nós, se a cultura geral do país e o progresso brasileiro estivessem na altura desta esplêndida instituição, honra do sábio que a dirige, dos homens de ciência que nela trabalham, do povo que dela desvanece e do governo que lhe tem compreendido o valor”.
Aos 8 de maio de 1950 faleceu o grande brasileiro com 85 anos de idade, dos quais dedicara mais de 60 contra os agentes mortíferos.

Jornal O Semanário

Esta notícia foi publicada por um dos redatores do jornal O Semanário, não significa que foi escrita por um deles, em alguns dos casos, foi apenas editada.

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