Opinião

Vital Brasil

12/02/2016

Vital Brasil

Leondenis Vendramim é professor de Filosofia, Ética e História (Foto: Arquivo pessoal)
Leondenis Vendramim é professor de Filosofia, Ética e História (Foto: Arquivo pessoal)

ARTIGO | Entre os inúmeros personagens da história do Brasil, que dignificaram o nosso país e aos quais devemos tributar nossa gratidão citamos Vital Brasil, que se destacou na plêiade de heróis que se sacrificaram para salvar vidas. José Manuel dos Santos Pereira Júnior e Maria Carolina Pereira Magalhães viram nascerem em seu lar seis meninas e dois meninos, sendo Vital Brasil o primogênito. Minas Gerais orgulha-se desse grande cientista, médico nascido em Campanha, em 28 de abril de 1865. Como protesto contra o costume de casarem-se os ricos entre si, José Manuel decidiu dar nomes diferentes aos seus filhos, assim seu primeiro filho foi chamado Vital Brazil Mineiro da Campanha. Sua família passava por crise, o Mundo passava por crise política e financeira, um avassalador analfabetismo e saúde pública precária. Vital fez seus primeiros anos escolares em Caldas revelando desde cedo sua inteligência. Sendo muito pobre, mudou-se para S. Paulo onde exerceu a função de tipógrafo, condutor de bonde. No Rio de Janeiro pretendeu fazer medicina, mas ouviu o repto: “Quem é pobre não pode estudar”. Isto lhe foi um desafio. Ele disse: “Vocês estão errados. Quem é pobre pode estudar”. Dedicou-se ao magistério e nas férias como auxiliar de engenheiro na construção da ferrovia Mogiana, e então, escrivão de polícia. Matriculou-se no curso de medicina aos 21 anos de idade (1866) formando-se em 1891. O Brasil sofria com a falta de higiene pública e grassavam muitas doenças epidêmicas (tifo, malária, poliomielite, cólera, febre amarela, peste bubônica e outras). O governo paulista o contratou para o serviço de combate às epidemias. Vital casou-se com sua prima segunda Maria da Conceição Filipina de Magalhães. Instalou seu consultório em Botucatu onde tratou de várias pessoas picadas por cobras; isto devido ao cafezal onde havia muitas cascavéis e jararacas. Por questão de curiosidade, ele ficou viúvo em 1913, casou-se novamente, e como adorava crianças teve 21 filhos.
Nesse tempo Adolfo Lutz dirigia o Instituto Bacteriológico que reuniu os renomados médicos Oswaldo Cruz, Emílio Ribas e agora Vital Brasil. Vital foi à Santos e lá estudou sobre a peste bubônica e depois auxiliou Oswaldo Cruz a debelar a febre amarela no Rio de Janeiro. Em Santos contraiu a peste bubônica e no Rio a febre amarela, mas curou-se de ambas. Aplicavam o soro de Yersin, importado e limitado. Então o Dr. Emílio Ribas escolheu a fazenda de gado Butantã para a instalação do laboratório, e foi no rancho, onde faziam a ordenha que iniciaram as pesquisas tecnológicas para descobrir os antídotos das epidemias. Foi no dia 11 de junho de 1901 que entregaram ao consumo os primeiros soros salvíficos, e em agosto do mesmo ano Vital Brasil entregou o soro antiofídico. Neste mesmo ano Vital Brasil fundou o Instituto Vital Brasil com o objetivo de criar e produzir o soro antiofídico.
O governo Federal e o Estadual Paulista concederam-lhe um prêmio e uma viagem à Europa com a finalidade de aperfeiçoar seus estudos. Mais tarde o Instituto Carnegie Endowement o convidou e pagou uma viagem aos Estados Unidos para falar sobre sua tese a respeito do soro e seus efeitos.
O Instituto iniciou a conscientização e recebia cobras venenosas vivas em troca de laços para prender víboras e soros contra o veneno. Diz-se que mais de 4.800 pessoas foram salvas anualmente da peçonha. Em 1899 o médico cientista Vital passou a dirigir o Instituto e o dirigiu por 20 anos (até 1999). Hoje o Instituto Butantã tem produzido outros tipos de soros e vacinas contra várias enfermidades e picadas de animais peçonhentos como aranhas, escorpiões, lacraias.
O médico, sanitarista e cientista é considerado, internacionalmente, como um dos grandes nomes da ciência em prol da humanidade, um dos primeiros pesquisadores de toxicologia na medicina experimental no Brasil e nas Américas, elevando o nome do nosso país. Porém o mais importante legado foi sua generosidade para com os pobres e o ensinamento que os pobres também podem vencer.

Jornal O Semanário

Esta notícia foi publicada por um dos redatores do jornal O Semanário, não significa que foi escrita por um deles, em alguns dos casos, foi apenas editada.

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