Rubinho de Souza

Viagem de trem, uma maravilha!

Nas minhas habituais caminhadas matinais, um dia desses, o Luiz Quibao e eu, estávamos relembrando do tempo em que as viagens eram feitas, em sua maioria, pelos trens da Estrada de Ferro Sorocabana.

Tive o privilégio de conhecer e usar a Sorocabana nos anos em que era a “toda poderosa” dos transportes ferroviários, cortando o Estado de São Paulo. Nem se pensava em viagem de automóvel no início dos anos 50, década em que nasci. Era de trem da Sorocabana que se ia à capital e outras cidades.

Para ir à Piracicaba, por exemplo, era pela Sorocabana que se viajava, sem pressa, pois tínhamos muito tempo para gastar, visto que não tínhamos a correria dos dias de hoje, quando, nem ao menos temos tempo para trocar meia dúzia de palavras com um amigo.

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Fiz muitas viagens de trem com meus pais, com meus irmãos quando criança com todas as fantasias próprias de um menino que estava descobrindo que o mundo era maior que a sua casa, sua escola, sua rua e que até sua cidade, enquanto observava nos vagões, os vendedores oferecendo revistas e jornais, enquanto o Chefe de Trem ia conferindo e picotando os bilhetes.

Os vagões muito bem cuidados, com revestimento de madeira cuidadosamente envernizado. Era verdadeiramente uma viagem que ficava registrada para sempre na memória pela experiência inesquecível, pela elegância com que se vestiam as pessoas nessa época.

O embarque e o desembarque em Piracicaba, que era outra aventura, lá tudo era grandioso, desde a entrada até a plataforma, a sala de espera das senhoras e o cheiro muito bom que vinha do bar e restaurante, sempre lotado de gente.

O famoso e imponente relógio, o guichê de compra das passagens, o saguão de entrada com seu pé direito alto, seu magnífico vitral e seu teto trabalhado davam a devida grandiosidade aos prédios da Sorocabana nas grandes cidades. Na praça logo doutro lado, “carros de aluguel”, com seus motoristas à postos, sempre à espera de um passageiro mais apressado.

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Foto enviada pelo colunista

Durante a viagem, as paradas nas estações das cidades servidas pela ferrovia eram muito agitadas. Em Piracicaba, a parada era maior que nas outras, com grande movimento de pessoas, de carregadores, de vendedores autônomos, que se agitavam ao apito do trem…

É, meu amigo, a Sorocabana, marcou um tempo, uma época grandiosa para todos nós que pudemos vivenciar a excelência dessa prestação de serviços, a certeza de que viajaríamos seguros e a bom preço. Muitos estudantes, viajavam em grupo, contando as novidades da cidade grande e os projetos para o final de semana na “terrinha”.

Eram a garantia de uma boa e descontraída viagem.

Mas quero registrar, neste depoimento pessoal, minha experiência vivida nessa época, pois era uma delícia você poder se deslocar dentro do comboio, e fazer uma viagem muito prazerosa, com o trajeto cheio de pontilhões, que o trem ao passar fazia um som característico que somente quem viveu e viajou nessa época é que pode saber, e até mesmo o cheiro da fumaça expelida pela máquina que puxava os inúmeros vagões era também de um cheiro característico, igualmente impossível de se traduzir por escrita, ou palavras.

Para quem nessa época era criança, tal como eu era nesse tempo, o sabor da viagem, do trajeto, do campo, dos animais no pasto, das casas, das pessoas nas janelas, enfim tudo isso passa em nossa mente como um filme que não se quer tenha fim.

Ao chegar em Piracicaba, para meu pai, era sagrado irmos ao mercadão para degustar um pastel, que também nunca mais comi igual.

Depois dos afazeres ou das visitas aos parentes, chegava a hora de voltar para casa e a alegria era duplicada, pois ninguém em sã consciência poderá negar, que quando criança, por mais que a viagem que fazemos, seja a melhor de nossas vidas, não se compara ao aconchego de nosso lar, de nossa casa, de nosso aposento e de nossa cama, que não trocamos com o melhor lugar do mundo.

E, assim, depois de um dia cheio de novidades, a volta para casa era a melhor parte da viagem, pois sendo criança não víamos a hora de chegar para abrir um embrulho onde tinha um presente, uma roupa, um calçado, uma novidade enfim…

Quem ao ler este simples, mas sincero relato, não se identificou com tudo o que leu acima, recordando de sua humilde, mas feliz infância, lembrando do passado quando se era criança ou jovem? Muitos, com certeza!logo do fundo do baú raffard

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