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Vamos falar em flores?

Há um tempo, tive a oportunidade de escrever um texto intitulado de “Saudades de um tempo que não vivi”. Nele, discorro sobre o sentimento de saudade de uma época, uma vida e uma realidade que não tive a chance de conhecer ou vivenciar, por ser nascida muitas décadas depois. Surpreendam-se, para a geração de hoje, ser de 1999 já não se é mais considerado tão jovem assim (meu espírito adolescente de quase 25 anos não apoia essa ideia, que fique bem claro).

Mas enfim, voltando ao verdadeiro motivo de eu estar aqui, compartilhando meus mais sinceros pensamentos.
Recentemente me vi contradizendo minha própria saudade desse tempo não vivido, com a saudade do tempo que vivi. Sim, vou falar agora daquela que me inspirou nesta pequena reflexão, tão difícil de vos apresentar, admito, mas que me permite expressar tudo que meu coração apertado tem sentido, desde que pude perceber que não a teria mais deitada em seu sofá, tirando seu cochilo da tarde, me perguntando quando eu iria lá tomar um café, ou quando eu lhe daria um bisneto. Minha tão querida avó Elza, que tanto me ensinou e me proporcionou, mas agora, descansou, deixando imensurável saudade de tempos que não voltarão mais, mas que, graças a Deus, pude viver e experienciar ao seu lado.

Do meu nascimento até minha vida adulta, ela sempre esteve presente. Me viu crescer, estudar, namorar e casar. “Fiz batata frita que você gosta!”, dizia ela naqueles deliciosos almoços depois da escola. “Não anda descalça, vai pegar friagem!”, repreendia ela, quando eu passava correndo com os pés no chão. “Quando eu tinha sua idade…”, anunciava, quando uma boa história estava por vir. Hoje sei que vou sentir falta das palavras cruzadas, da lata de leite condensado aberta na geladeira (que por sinal era acompanhada de um “eu não gosto de coisas muito doces”), do perfume do talco Alma de Flores e, principalmente, dos grandes e belos olhos azuis, que pude ver pela última vez numa despedida silenciosa, mas ainda assim, que vou guardar para sempre em meu coração.

Quantas tardes no centro da cidade, parando para comer uma coxinha e se refrescar com um Tampico. Quantas idas até Sorocaba, para consultas rotineiras ou para visitar a família. Quantas conversas na varanda, conjecturando uma viagem ao Paraguai, ou simplesmente observando a gatinha de estimação se rolar sob o sol.

Ah, minha avó. Quanta coisa se passou, quantas emoções se apresentaram. Lembranças, memórias e muita, muita saudade, foi o que restou. Mas mesmo com tudo isso, hoje só posso ser grata, pois você também ensinou a resposta, para quando a tristeza, o vazio e o sentimento da perda quiserem invadir nossos corações, trazendo à tona as lágrimas da saudade.

“Vamos falar em flores…”

sara-figueiredo-colunista
Sara Figueiredo, escritora, formada em Letras e Tradução

Jornal O Semanário

Esta notícia foi publicada por um dos redatores do jornal O Semanário, não significa que foi escrita por um deles, em alguns dos casos, foi apenas editada.

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