“Escojamos el libro que sabe conservar em su trono a la verdade, a la moral y la estética”. Aurelio Zamora Ordóñez in Artículos Literarios.
De Indaiatuba chega-me grata notícia, como antigamente se dizia: a operosidade do conhecido historiador e biógrafo José Roberto Guedes de Oliveira oferta aos apreciadores de um dos mais simpáticos gêneros literários: a biografia, mais um de seus livros. Trata-se do segundo volume de Personalidades Ilustres de Capivari, pouco mais de dois anos depois de lançado o primeiro volume, e que vem enriquecer a bibliografia do investigador e orgulhecer os filhos daquela encantadora cidadezinha perdida no quente interior paulista, bucólica e parada, e muito quente para quem sai deste Sul, mas acolhedora e bonita, com belas praças e casas antigas, algumas ainda dos dias do Império. O visitante que por ela passa, dela não se afasta. Não foi em vão que o romancista de O Padre Belchior de Pontes e A Carne, por ela se encantou, lá criou raízes, casando com uma bela capivariana. E como Júlio Ribeiro, tantos outros chegados de outras plagas, por lá ficaram. O livro contém 100 pequenas biografias de personalidades da Capivari, de Rafard e Mombuca, todas elas estreitamente interligadas. Tivemos o privilégio de passar algumas horas em Capivari e em Rafard, meu filho David e eu e tivemos a alegria de conhecer uma outra figura encantadora, grande conhecedor e fabricante de cachaça, João De Simoni Ferracciù, que porfia com Guedes de Oliveira no fascínio da boa conversação. Muito conhecido ali naquela parte do Estado, o autor tem-se devotado a investigações das coisas da sua terra, sendo uma das mais importantes a que levou a cabo sobre o poeta de A Casa Destelhada, este doloroso e tão bom Rodrigues de Abreu. Filho amoroso de Capivari, que dele se orgulhece, também, Guedes de Oliveira tem na sua vasta obra trazido a sua terra ao conhecimento não apenas dos paulistas, mas dos brasileiros de outras regiões. Costumo dizer, sem lisonjas, que o pouco que conheço da vida e obra de Rodrigues de Abreu, devo-o aos estudos pacientemente elaborados por esse investigador. É, sem favor, pequena enciclopédia viva das coisas e fatos capivarianos. Lembro uma anedota, simples e possivelmente sem o menor interesse para o leitor: passávamos por uma casa majestosa, de muitos janelões, casa estilo colonial, que me chamou a atenção. Olhei admirado: era efetivamente uma bela vivenda das que ainda encontramos perdidas por este imenso interior brasileiro, e Guedes notou-o. “Ali hospedou-se o Imperador Dom Pedro II quando visitou Capivari!”. Uma outra casa, de proporções mais modestas, mas bonita, pintada de azul onde hoje funciona uma pizzaria e restaurante. Bonita, bem cuidada, sóbria. “Sabes quem viveu ali? Foi o romancista Júlio Ribeiro.” Não há fato histórico que passe despercebido ao biógrafo de Rodrigues de Abreu!…
Personalidades Ilustres de Capivari é pequena enciclopédia das coisas de Capivari. Adotou na escolha das personalidades estudadas não apenas aquelas que nasceram em Capivari e adjacências, mas quem veio de outros lugares e ali fincou a tenda, criou raízes, viveu, trabalhou e produziu, e não apenas em Capivari, mas, também, nas circunvizinhas Rafard e Mombuca. Aqueles são lugares encantadores, ricos de história e tradições, que o autor pacientemente investigou em vários anos. Método moderno este, que não se prende ao lugar de nascimento, mas acolhe nas suas páginas a todo aquele que, de certo modo, serviu e ajudou Capivari no correr de sua vida. A metodologia ortodoxa talvez, no passado, desamasse o método seguido por Guedes de Oliveira, mas este, convenhamos, é bem mais adaptado às nossas realidades, em que há constante mutabilidade entre povoações e habitantes. O próprio Rodrigues de Abreu é disputado por duas importantes cidades paulistas: Capivari e Bauru, como o acadêmico Amadeu Amaral o é por Capivari e São Paulo. Agiu bem o biógrafo. É antes de tudo um retrato de toda uma região importante para o Estado, pois Guedes de Oliveira traça pequeninos perfis das personalidades, muitas delas conhecidas suas, outras com as quais chegou a conviver e a privar, ou cujas obras leu, ou teve amizade com seus familiares, o que faz do seu livro uma contribuição pessoal e de primeira mão que não hesitaria chamar de viva e movimentada. Não ficou na busca bibliográfica apenas. Empresta a sua contribuição pessoal, o que humaniza este tipo de investigação.