Tenho em mãos, por deferência especial do benquisto amigo Eng. Dario Bicudo Piai, exemplar do livro “Outros jeitos de usar a boca”, na 51ª. edição e “O que o sol faz com as flores”, na 34ª. edição, da escritora Rupi Kaur, nascida na Índia e que vive no Canadá.
Ambas as obras ricamente ilustradas pela própria autora e tradução em língua portuguesa por Ana Guadalupe, Editora Planeta, São Paulo (SP), 2023.
No entanto, o que faz o destaque da Rupi Kaur é que ela, de uma forma “sui generis” , iniciou-se como instapoeta, isto é, as suas publicações pela internet, utilizando do instagram. É a forma moderna de levar os versos para além do papel impresso, mas de uma maneira mais direta: pelas redes sociais. Isto pude observar em algumas poetas bauruenses, como a Vanessa Garcia, Keila Moraes de Souza e Lara Magalhães de Faria e outras contemporâneas que também se utilizam dos meios sociais da internet, para a exposição de seus doces e profundos versos.
No que concerne aos trabalhos poéticos da Rupi Kaur, vejo na mesma um certo ar do significado da vida, do “eu”, das angústias, dos momentos preciosos e precisos que ela é protagonista e, como possuída dos elementos tagorianos, cria uma sequência de acontecimentos do cotidiano. E, com efeito, utiliza-se de inovações de linguagem e escrita, ao modo que aprendera na infância: sem pontuações, letras minúsculas, sem parágrafos, corridos, etc.
Não me assusto a tal envergadura de uma ainda jovem que se dedica aos elementos dos versos, pois que não lhe faltam a doçura e o encanto da escrita, pendores dessa indiana-canadense que se notabilizou perante à mídia e pelo seu talento inconteste.
O jeito diferente de poetar se caracteriza por estes elementos de sua raiz, da sua contemporaneidade, do seu contraponto de escrever, deixando, muitas vezes nas entrelinhas, algo expressivo de uma interrogação. É uma poesia brotada da concepção do mundo atual, das dificuldades reinantes e dos motivos que a levam a tecer versos, muitos dos quais frios, mas calculados.
Se as suas sucessivas edições em obras, as quais foram de início pelo instagram, são retratos de sua imagem de mulher soberba a uma linha corrente de jornada, como bem estampada na contracapa do livro “O que o sol faz com as flores”, ou seja: dividida em murchar, cair, enraizar, crescer, florescer, uma celebração do amor em todas as suas formas”.
O romantismo traduzido em versos, que a Rupi Kaur nos propõe a deliciar, é algo que merece uma contemplação e mais e mais páginas de altíssimos encômios a quem se dedica à arte poética, trazendo do seu âmago o que lhe passa à luz de cada momento, no perpassar de sua jornada cá entre nós.
Delicio-me, portanto, com a beleza de versos, ternura de escrita e magia das penas de uma jovem que se despontou para a poesia, quebrando barreiras e se afirmando na literatura dos versos, que tanto Walt Whitman lutou e se consolidou em Rodrigues de Abreu. Não é a idade nova que conta, mas o poderio criativo de quem nasceu para nos brindar com o que há de melhor: poesias em tempos ingratos.
Detalho, aqui, que acho oportuno e importante que os feixes de poesias, com os seus significativos títulos sejam também impressos, como estas duas obras, para poder brilhar nas nossas estantes e ser objeto da nossa leitura em momentos de reflexão. Obras para ficar e não se perder no tempo e no espaço, principalmente hoje que se dizem “depositar nas nuvens”.