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Tempo diferente: comente com sua gente

De repente, me vem uma vontade de escrever.
Vejo um pedaço de lápis preto com a marca apagada.
Era como se, com alguém, eu estivesse conversando
e esse alguém me perguntando, e ali proseando.
Vou escrevendo e, no tempo, chego até a me perder.
Aquele pedaço de lápis vai deslizando no papel.
Aí então, me vejo distante, como se estivesse voando e cruzando o infinito do céu.
Chego numa casa na beira do rio.
Tem uma varanda de dois arcos. Uma mureta cada lado.
De um lado, um vaso de guaimbê, e do outro, uma roseira.
Enroscando em um dos seus galhos, quebrei-o sem querer.
Parecia um sonho.
Vejo minha mãezinha com avental, batendo as mãos sujas de trigo. Está fazendo um bolo.
Enquanto o bolo está no forno, ela enrola um pano, coloca na cabeça e vai equilibrando o balde com mais dois baldes enroscados nas pontas do bigolo.
Desce por um caminho, o capim vai ralando as pernas. Vai até a vertente d’água.
Eu a acompanho até a cozinha. O bolo já está cheirando.
Enquanto isso, mamãe não perde tempo: vai passando roupas com o ferro à brasa.
Continuo escrevendo ou proseando comigo mesmo.
O papel vai acabando.
Vou até o fogão à lenha, vejo o bule de café aquecido e tomo um gole com vontade.
Ali, no cantinho do fogão, nosso gatinho está observando.
Já é tarde. Meu pai chega e, com minha mãe, vai conversando e a abraçando. Depois de ter deixado num canto a cesta de comida e o corotinho de madeira.
Toma um gole de café, tira o sapatão, bate na escada da cozinha para tirar a terra do pé e a poeira.
Vai descendo a cozinha, olhando lá embaixo a criação que já conhece o seu dono.
É hora da comida.
Olha para o terreiro e, no chiqueirão, aquela confusão.
Assim termina a minha prosa.
Papai e mamãe descansam depois de um banho de bacião.
Ainda ouço os dois conversando baixinho até eu pegar no sono.
Que saudades daquele tempo diferente. Mas que era tão bom.
Tempo diferente.
Diferente de hoje. Nem tinha televisão.

Toninho Junqueira

Toninho Junqueira é locutor há mais de 40 anos, escritor e restaurador de cadeiras antigas e imagens sacras. Desde 2021, conduz sua própria rádio, a São Gonçalo, com 24 horas de programação sertaneja raiz. Fale com o autor por telefone ou WhatsApp: (19) 99147-8069.

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