10/06/2014
Tateando paredes
Artigo | Por Claubijeine Cavalcante
“De todos os sentidos físicos, suponho que concordamos que o da visão é o de maior valor e o mais precioso”. (C.D.Cole – A Cegueira Espiritual)
Numa estrada de Damasco, rígido em suas convicções, ao ouvir uma voz, um grande clarão cegou os olhos de Saulo. Passados alguns dias, naquela condição, sem comer nem beber, foi levado a um homem chamado Ananias. Em questão de segundos, fez caírem as escamas dos seus olhos. Agora Paulo de Tarso, um fundamentalista judeu, inconformado com os ensinamentos revolucionários de Jesus, que perseguia os cristãos até a morte, conhecia nova vida. Quando o conheci, entendi que suas ideias, seus novos conhecimentos caíram-lhe como uma tempestade e mudaram sua vida. Acho que mudaram a minha também. Mas ainda ando tateando as paredes.
Após a nova visão, Paulo nunca mais se calou, nem encolheu suas mãos aos que precisavam do amor supremo.
Estamos vivendo dias maus, especialmente no Brasil. As notícias desta semana nos chocam e fecham com o relato de um exemplo de profissional da rede pública estadual de ensino. Bem aqui, ao nosso redor, nossas crianças e adolescentes estão trazendo de casa problemas tão profundos da alma, para os quais se pode amenizar a dor, mas não solucioná-los, e, então nos perguntamos “o que fazer?” A ausência e ineficácia do Estado, que deveria atuar em todos os meios para a valorização da família, e não para o seu desfacelamento, como temos assistido; uma sociedade corrompida pela “coisificação”, pela depreciação do ser em razão do ter, trazem à tona o que há de pior no comportamento humano.
Resta-nos a caridade, ainda que como uma gota no oceano. No entanto, abstemo-nos dela. Precisamos que esse amor seja derramado desde aqui até os confins da Terra. É importante a salvação de vidas distantes, destruídas, mas ainda muito mais importante, a salvação dos que estão ao nosso redor. Quando as escamas caíram dos olhos de Paulo, ele foi tomado da dor mais profunda, pela injusta perseguição aos inocentes. Aquele homem não se conteve em si, e saiu a buscar aos que perseguia. Ali, do seu lado, e, a cada dia mais distante.
Apesar do bom discurso de todos nós, há problemas muito profundos brotando na alma das nossas crianças e dos nossos jovens. Vamos deixar de fingir que esses problemas não nos atingem. Eles têm que nos constranger.
Confesso duvidar absolutamente da salvação de todos. Mas tenho profunda convicção de que só haverá diferença quando as escamas dos nossos olhos caírem. Quando aplicarmos políticas eficazes de humanização da sociedade, na qual Deus seja o farol, a família o pilar, a educação a mestra e a presença do Estado Democrático de Direito os limites, os problemas sociais que tanto nos chocam hoje, serão lembranças desta era de trevas, a qual já nos acostumamos.