Ninguém vive só, precisamos uns dos outros, mas carregando nossa cruz, sem outros dependurados junto, levando-nos à bancarrota, porque somente podemos modificar a nós mesmos, e aos outros somente podemos amar, dando nosso exemplo para que um dia se melhorem.
O médium pedro-leopoldense, nascido católico e que se tornou o maior espírita do Brasil na divulgação dos princípios do espiritismo, psicografando (escrevendo) e psicofonando (falando) mensagens dos mortos (espíritos) que ouvia e via rotineiramente, ultrapassando mais de quatrocentos volumes de livros editados, tem uma página muito interessante sobre desligamento emocional e moral dos outros, inclusive da família.
Essa página foi assinada pelo seu benfeitor, ex-padre católico no Brasil, quando viveu no corpo de Manoel da Nóbrega, que então assinava apenas Emmanuel, página de título Ligações familiares, da obra “Calma”, publicada pela Editora GEEM, que diz:
“Se depois de sacrifícios inumeráveis em favor de parentes determinados – e isso acontece frequentemente entre pais e filhos – notas, no íntimo, que a tua consciência se reconhece plenamente quitada para com eles, sem que esses mesmos familiares, após longo tempo de convivência, demonstrem o mínimo sinal de renovação para o bem, deixa que sigam a estrada que melhor se lhes adapte ao modo de ser, porque as Leis da Vida não te obrigam a morrer, pouco a pouco, a pretexto de auxiliar aos que te recusam o amor.”
Isso não quer dizer abandono. Pode-se deixar que vão ao fundo do poço (se é a livre vontade deles), mas, quando rogarem auxílio verdadeiro, devemos estender as mãos, conscientes de que nosso despertar espiritual nos conduz a um caminho diferenciado dos deles, e que não podemos obrigá-los a atravessar conosco.
Jesus dá um precioso ensinamento; quando reunido com seus discípulos e seguidores foi interpelado: “Sua mãe e seus irmãos estão aí, e chamam por você”. E o jovem nazareno respondeu com fé e convicção, demonstrando que respeitava a posição dos outros, nas escolhas: “Minha mãe e meus irmãos são todos aqueles que fazem a vontade de meu Pai”.
Que Deus, nosso Pai amantíssimo, possa nos mostrar o momento de fazermos os desligamentos com serenidade, mesmo que com sentimento de dor, lidando com as emoções negativas e imaturas que ainda não superamos, e que nos conceda os sentimentos de compaixão e amor para com todos aqueles que escolhemos em nossa estrada de aperfeiçoamento.
ARTIGO escrito por Arnaldo Divo Rodrigues de Camargo é especialista em dependência química pela USP/SP-GREA
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