19/12/2014
Só por hoje, graças a Deus
Diáconos fundaram Pastoral da Sobriedade em Capivari; ação da Igreja Católica presente em todo o país atua na recuperação de alcoólatras e dependentes químicos
CAPIVARI – Admitir, confiar, entregar, arrepender-se, confessar, renascer, reparar, professar a fé, orar e vigiar, servir, celebrar e festejar. Estes são os 12 passos da Pastoral da Sobriedade, contribuição da Igreja Católica na prevenção e recuperação de alcoólatras e dependentes químicos, fundada recentemente em Capivari pelos diáconos Marcos Antonio Canobre e Marcio Cardia, da Paróquia São Benedito.
Nascida de um desafio lançado por João Paulo II e aprovado pela Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) em 1998, a Pastoral da Sobriedade está espalhada por todo o país. São mais de 1.040 salas de apoio que trabalham semanalmente e de maneira sistêmica, envolvendo ainda jovens em recuperação e codependentes (familiares de dependentes).
Em Capivari, as reuniões acontecem às segundas-feiras, das 19h30 às 21h30, na sala de catequese (embaixo da Matriz). Nesta segunda, 22, a discussão permeará o nono passo: orar e vigiar. Não só no município, mas em todo o Brasil. Segundo Canobre, cerca de 60 pessoas já passam pelas salas na cidade, além de dez agentes que se dispuseram, voluntariamente, a ajudar o próximo nessa luta.
“O que chama a atenção na Pastoral é que lá tudo é alegre. A gente já chama a pessoa com um abraço, depois inicia com música, tem vários cânticos, pra pessoa se sentir bem acolhida”, conta Canobre. “E a gente acolhe pessoas de qualquer religião. A gente começa rezando o terço, mas não faz propriamente parte do trabalho; a pessoa pode esperar se quiser. A gente puxa pra ir entrando num momento de oração.”
O importante, explica, é não perder a identidade da Igreja. “Cada semana é um passo: a gente fala um pouco do Evangelho, divide em grupos e fala sobre o tema daquele dia. Tem um esquema.” De acordo com o diácono, quando a família vai junto, ela e o dependente não ficam no mesmo grupo. “A gente separa. Tudo o que vai ser conversado naquele grupo é confidencial. É bem parecido com o Alcoólicos Anônimos (AA), mas pega um pouco do espiritual também.”
O grupo serve ainda para reunir pessoas que estão passando ou já passaram pela mesma situação, para que se ajudem compartilhando experiências. Do mesmo modo, a Pastoral também atua em outros tipos de problemas ou dependências, como a depressão e a compulsão, por exemplo. “As pessoas vão vendo que os problemas são os mesmos, que as dificuldades são as mesmas, que ela não está sozinha naquela vida. Muitas vezes, a pessoa pensa que não tem mais jeito, mas tem”, afirma um dos idealizadores da ação na cidade.
Em números
Dados divulgados pelo Relatório Mundial sobre Drogas da Organização das Nações Unidas (ONU) em junho deste ano apontam que cerca de 5% da população mundial entre 15 e 64 anos usa drogas ilícitas, o que corresponde a 243 milhões de pessoas – número superior à população total do Brasil, para se ter uma ideia. No entanto, o estudo indica que o consumo permanece estável, aumentando proporcionalmente ao crescimento populacional.
O relatório aponta ainda que cerca de 200 mil pessoas morreram em 2012 por causa das drogas. No Brasil, 3% da população dos estudantes universitários, de todas as idades, usam cocaína. O aumento de dependentes da maconha no país também foi percebido. Apesar disso, o Brasil está em sétimo lugar no combate ao plantio e à produção do entorpecente.
Marcos Canobre conta que a ideia de abrir a Pastoral da Sobriedade em Capivari surgiu da dificuldade de encontrar casas de internação para os jovens que o procuravam constantemente. “Da Igreja só tem uma aqui perto, que é a do Sapezeiro, na estrada que vai para Santa Bárbara d’Oeste. A gente via que era uma falta que tinha aqui. Daí eu falei pro Marcio ‘vou trazer a Pastoral pra Capivari’.”
Mas a vontade do diácono, que foi presidente do Lar dos Velhinhos São Vicente de Paulo por oito anos, vem de muito antes, quando entregava café da manhã aos moradores do Morro dos Macacos. Foram três anos de idas e vindas, aos sábados, incluindo confraternizações de fim de ano. Sem nunca ter tido problema direto com as drogas, sempre se sentiu incomodado ao ver jovens sofrendo com a dependência.
“Eu tinha vontade de montar uma clínica ou de pelo menos ajudar aqueles que lá já estão. E eu acho que com a Pastoral da Sobriedade já passo isso”, diz com sorriso no rosto. “Depois que você participa da Pastoral, você mergulha tanto que é uma coisa natural, você passa a encarar como uma doença que o indivíduo terá pelo resto da vida. E em toda família tem.”
O prazer em ajudar as pessoas, conforme orienta o segundo o mandamento de Deus (amar o próximo como a ti mesmo), Canobre dedica a tudo o que aprendeu com os idosos do Lar. “Se teve um crescimento na minha vida, foram os oito anos que fiquei lá. Vi um pai morrer sem a visita do filho. E sabe o que ele me falava? ‘Coitados dos meus filhos, eles têm muito que fazer. Eles são uma benção para mim’. Eu não acreditava naquilo. Mas aquela raiva que me dava, eu fui curado também. Pelo amor que o pai tinha pelo filho. Ele nunca falou mal do filho dele.”
Segundo o pregador, o desafio é fazer a família entender que ela também tem que participar desse tratamento. “Só que infelizmente tem família que só vai enquanto está internado. Porque quer ter a carta pra poder visitar. Se não, não entra.” – Para ir ver os dependentes nas casas, os familiares são obrigados a participar, no mínimo, três vezes por mês de uma sala de apoio ou de grupos como o Al-Anon e o Ar-Anon.
“A doença está dentro de casa. Escondida, muitas vezes, atrás de uma garrafa de álcool, de uma lata de cerveja. Às vezes sou eu quem está abrindo a porta. Porque o ladrão é aquele que entra pelo seu jardim. Você já assistiu ao filme do Drácula? Você já viu o Drácula entrar sem ser convidado? Ele seduz a pessoa para abrir a porta para ele entrar. E uma vez na casa da gente entra no coração, na mente, e nos destrói.”
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Mais informações sobre a Pastoral da Sobriedade de Capivari podem ser obtidas pelo telefone (19) 9-9892-1112 ou pessoalmente na Paróquia São Benedito (Avenida Dr. Rodrigues Alves, 50, Raia).