A chegada do técnico Jorge Sampaoli ao Santos é um dos grandes fatos desse início de 2019. Não só por um treinador estrangeiro começar um trabalho desde o princípio da temporada e não chegar apenas para remendar o que já vinha sendo feito, mas também pela própria figura de Sampaoli: conhecedor de futebol, meticuloso e, principalmente, trazendo ideias diferentes das que temos.
No meio do modorrento, porém necessário noticiário dessa época do ano, duas coisas me chamaram a atenção: a primeira, divulgada pelo próprio Santos, é Sampaoli pedindo para conversar com a pessoa encarregada pela manutenção do gramado do CT Rei Pelé. Se o sucesso mora nos detalhes, um piso adequado para treinamentos me parece uma ótima pedida. E a outra, que é a principal, é que já no primeiro dia de trabalho, o elenco do Santos treinou com bola.
É verdade que aquela antiga mania de submeter os atletas a intensos trabalhos físicos nos primeiros dias da pré-temporada está morrendo gradativamente. Entretanto, com raras exceções no futebol brasileiro, ainda há no inconsciente coletivo da nossa cultura, de que para “aguentar” o ano os jogadores tem que fazer uma intensa (e física) pré-temporada. Como se jogadores mais bem condicionados fisicamente fossem necessariamente entender melhor as referências e princípios de jogo, tomar decisões mais sábias e resolverem de forma mais vantajosa os problemas imprevisíveis que naturalmente vão aparecer em campo.
Ao trabalhar com bola já no primeiro dia, Sampaoli deixa claro que quer dar uma identidade o quanto antes a equipe santista. E é através de uma metodologia de treinos – que é um objeto que cada vez mais me fascina e cada vez mais busco entender e estudar – pautada em jogos (sempre com bola) que se cria padrões de respostas coletivos nos quatro momentos do jogo, ataque, defesa, transição ofensiva e transição defensiva.
Como vamos construir um modelo de jogo se nossos jogadores correm em volta do gramado? Como vamos ter soluções coletivas se no nosso treino, por exemplo, treinamos o gesto técnico, separado do tático, do mental e do próprio físico? Treinar uma finalização recebendo um passe com as mãos e sem adversário, ou tendo que driblar cones, é algo que vai acontecer no jogo valendo três pontos? Claro que não.
Não quero dizer aqui que Sampaoli inventou a roda. Vários técnicos brasileiros conhecem o que há de mais moderno em metodologia de treinamentos e aplicam no seu dia-a-dia. Mas quando vi o Santos treinando com bola já na reapresentação de 2 de janeiro me enchi de esperança! Estou empolgado com a novidade que reside na Baixada Santista.
ARTIGO escrito por Marcel Capretz
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