Arnaldo Divo Rodrigues de Camargo

Renascer, família, respirar e Chico Xavier

“Se aconteceu alguma coisa com você, pode respirar fundo e relaxar, se Deus tira uma coisa de você ele tem um plano muito melhor, confia.” Chorão (cantor e compositor)

Todos os dias, quando você acorda, qual é o primeiro pensamento que você tem? E quando você dorme, em que está pensando?

Eu estava pensando que renascer na Terra é bom, mas, tem a fase primeira, o berço, em que precisamos mais do aconchego dos pais e dos irmãos, precisamos ser tocados por quem nos ama e cuida de nós, quase tanto quanto precisamos do ar que respiramos. A ausência nos desespera, nos aflige e berramos.

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Voltar aqui é muito bom, a intimidade da família que nos acolhe, a existência nessa etapa é serena, nada nos preocupa ou compromete, e nos asserenamos diante de um colo que é outra vida amiga e respiramos suave e descansamos um sono reparador e feliz.

E nos alegramos, agora idosos, quando despertamos do sono ou quando nos preparamos para dormir, porque existe alguém que cuida de nós permanentemente e tudo concede como empréstimo para que desfrutemos da vida, do corpo, da família, do lar, da terra, da água e do ar – empréstimos da graça divina, sem as quais também não sobreviveríamos.

Nestes tempos de pandemia, meu amigo e irmão de fé, Alírio Mendes da Silva, resolveu não ir mais às reuniões de nossa igreja, estava se concentrando nas obras de Kardec, O Livro dos Espíritos, e outros autores, lendo, meditando e orando. Voltaria depois de fazer uma cirurgia e passar essa tempestade que assola o mundo.

Enquanto eu fazia caminhada e conversávamos pelo celular, contou que sonhou e, no amanhecer, recordou perfeitamente do que viveu em sonho. Enquanto o corpo descansava, foi levado pelo seu amigo espiritual, André, para uma reunião, na qual eu estava presente junto com outros membros de nossa igreja.

O instrutor, que compareceu diante da plateia lotada de almas, foi prático e direto ao tema. Alírio, impressionado, recordou-se das três recomendações do espírito, que se assemelhava ao velho Bezerra de Menezes, cabelos brancos e barbas longas: Para que todos realizem o trabalho de que estão investidos, devem pontuar suas atividades por três compromissos sérios: disciplina, pontualidade e boa vontade.

Pensando no que o amigo havia dito, eu me recordei do dia em que Chico Xavier foi até uma represa em sua cidade natal, Pedro Leopoldo, em Minas Gerais, e enquanto meditava e orava apresentou-se a ele, a princípio como uma nuvem, que foi se transformando num homem romano, e lhe disse que teria uma missão junto do médium que somente se realizaria se ele se comprometesse a cumprir alguns deveres.

O médium perguntou quais, e então Emmanuel, identificando-se, passou as três solicitações iniciais: 1ª. estudar, 2ª. trabalhar muito, 3ª. esforçar-se no bem. E Chico Xavier respondeu que sim, que iria cumprir com a tarefa proposta, e então o seu guia e benfeitor finalizou: primeira regra, disciplina no estudo; segunda, disciplina no trabalho; e terceira, disciplina no esforço do bem.

Meu amigo-irmão Alírio acabou não escapando de contrair a covid-19 e, internado, me escreveu: “Oi, Arnaldo, não posso falar; os exames apontavam gravidade dos pulmões; o médico voltou prescrevendo repouso absoluto. Suas palavras eram como esponja molhada em fel; lutei bravamente, só eu sei. Chegou a hora? Achei que estava tudo perdido. Nunca vi coisa igual, a falta de ar, mesmo com oxigênio, e alucinações, você não sabe onde está e com quem está. Se eu pudesse dizer algo ao mundo nesse momento, diria: ‘Se cuide’”.

E finalizou sua mensagem no WhatsApp: “Quem sabe você encontra um autor que escreva um livro sobre a arte de respirar”.

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