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Reflexões de um arrependido

Ouvindo a Rainha do Rock and Roll, Janis Joplin, cantando “Didn’t I make you feel like you were the only man?” (Eu não te fiz sentir como se você fosse o único homem?), minhas lembranças se voltaram à uma conversa que tive com o amigo Toninho. Essa conversa tinha um viés que remetia à similaridade do questionamento feito na canção da Rainha do Rock and Roll que, atualmente, reside na constelação da eternidade junto às estrelas, uma vez que partiu sem volta física para essa viagem ainda muito jovem, no auge dos seus 27 anos.

Vamos, então, à história!

Um dia do passado, ao adentrar em um boteco acabei encontrando o Toninho, um amigo desde os tempos em que cursávamos o curso de engenharia. Papo vai e papo vem, Toninho entre um Chopp e outro começou a desfiar certos pensamentos que estavam trancados na racionalidade da sua mente e na emoção do seu coração cheio de amor por sua esposa. Quieto fiquei, embora disse a ele que era melhor ele não verbalizar naquela mesa daquele ambiente certos detalhes de sua intimidade conjugal. Mas Toninho nem me ouviu e não se importou pelo que eu falei a ele e disse para mim que lascou a seguinte pergunta à sua esposa: Eu não te fiz sentir como se você fosse a única mulher? Essa pergunta que fiz a ela passou a ecoar em minha mente, disse Toninho, e também a reverberar como um eco insistente. Sabe, continuou Toninho, sou confrontado pela amarga realidade das minhas ações, ou melhor, pela falta delas. Ao olhar para trás, vejo os momentos em que falhei em transmitir a magnitude do que minha esposa significa para mim.

Achei melhor não dizer mais nada e passei a só ouvir o Toninho, que continuou dizendo: percebo agora que, em meio à correria do cotidiano, na busca incessante por objetivos e metas, negligenciei o mais importante: a minha esposa. Não é que eu duvidasse do seu valor ou negligenciasse sua presença em minha vida, mas admito que não soube expressar adequadamente a quão única e especial ela é para mim.

Talvez tenha sido minha hesitação em demonstrar vulnerabilidade, ou a complacência que se instala após anos de convivência. De uma forma ou de outra, falhei em cultivar o jardim do nosso relacionamento, em regar diariamente a flor que ela é, fazendo-a florescer ainda mais em toda a sua beleza.

Sabe, disse Toninho, hoje peço perdão por todas as vezes em que minhas palavras foram escassas e meus gestos foram tímidos para com ela. Eu reconheço agora o peso de minhas omissões, o impacto de cada momento em que não a fiz sentir como a única mulher no mundo.

Mas, apesar das falhas do passado, preciso mudar, disse Toninho, dedicar mais tempo e esforço para nutrir minha conexão com ela, para lembrar dela diariamente do quanto ela é especial e amada. Preciso me reciclar como homem que ainda sabe amar e não ser econômico ao expressar meus sentimentos com mais clareza e sinceridade, para que nunca haja dúvidas sobre o lugar que ela ocupa em meu coração.

É um trabalho que estou disposto a fazer por ela. Porque, no final das contas, percebo que não se trata apenas de fazê-la sentir como a única mulher. Trata-se de reconhecer e valorizar a singularidade de sua essência, celebrando-a todos os dias como a joia preciosa que ela é.

Quieto eu estava e quieto permaneci ouvindo Toninho, que já um pouco mais sereno repetia a pergunta para ele mesmo: Por que não fiz, desde sempre, que minha amada esposa se sentisse como se fosse a única mulher?

Assim, antes de encerrar quero dizer que certas músicas provocam nossos sentidos e podem nos levar aos mais diversos mundos dos acontecimentos em que tivemos presentes e/ou presenciamos. Janis Joplin foi, na minha juventude, um dos maiores ícones do rock psicodélico e referência do blues e da soul music. E ainda continua!

João Ulysses Laudissi

Engenheiro e ex-diretor do Senai Rafard

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