Prosseguindo nesta “autobiografia”, voltamos a um detalhe das atividades na oficina de ferreiro do “seu” Plácido Cortelassi, filhos e o “seu” Ernesto Albertini, que além da moldar artisticamente o ferro em brasa, preparava os cascos dos equinos para neles, com aguçados cravos fixar as ferraduras protetoras.
Era assim a interessante operação, que assistíamos embevecidos diante da humilde aceitação dos animais, deixando-se calmamente trabalhar pelas fortes e capazes mãos do mestre ferreiro, na presença do dono do animal: com as quatro novas ferraduras adrede confeccionadas ali, começando pelas dianteiras, “seu” Ernesto, com a mão esquerda segurava, levantava e dobrava a perna do animal para empunhando uma torquês, arrancar os cravos existentes, retirando a velha ferradura. A seguir, com larga grosa raspava a pata, preparando-a e colocando nova ferradura.
Naquela época era normal esse desempenho nas ferrarias, devido grande número de carroças, troles, charretes, logicamente puxados por animais e poucos veículos automotivos existentes na região (em Raffard havia somente um Ford “bigode” vermelho escuro), usado pelo seu proprietário Sr. Carlos Carnevale para pescarias no rio Tietê ou, dirigido pelo seu cunhado, o Sr. Armando De Biasi para entregar nas fazendas (geralmente marcadas em caderneta para serem pagas no fim do mês), as compras adquiridas em seu armazém de secos e molhados, localizada na Praça da Bandeira.
Continuando a caminhada pela rua Maurice Allain, entrando por uma larga passagem, chegamos à um enorme barracão onde – com grande aceitação e consumo em toda região – eram fabricados, engarrafados e distribuídos os licores e refrescos da Família Braggion. Fechou.
Prosseguindo, agora do lado direito da rua, entramos em contato com a Família Baena vinda da Espanha, cuja residência era também usada como oficina onde seus componentes fabricavam alpargatas (razão pela qual eram chamado de paragateiros), um calçado costurados a mão e que, tal e qual aos sapatos e chinelos levavam os números de acordo com os pés dos usuários, tendo a parte inferior de cordas finas e a superior de lona com elásticos nas laterais, para mantê-los fixos nos pés. Esse tipo de calçado era usado por 90% da população local por ser confortável, prático, com as lonas em cores variadas e barato. Infelizmente como outras boas coisas deste lugar, também se foram para jamais voltar…
Grupo Escolar de Rafard
Imóvel construído na esquina das ruas Moraes Barros e Maurice Allain, com a entrada principal na primeira. Não nos recordamos das metragens dos aposentos, apenas que havia um corredor central a esquerda deste, três salas de aula, à direita mais três, tendo após a primeira o Gabinete do Diretor e a Sala dos Professores. Ao fundo de chão batido (bem afastada a “casinha”…) depois o chão de tijolos para as formaturas das classes antes de ingressarem nas salas de aula, canto do Hino Nacional, festejos em datas nacionais bem como para o recreio na metade dos períodos.
Valemo-nos mais uma vez para citar o excelente método didático pedagógico usado pelos educadores (as), do primeiro ao quarto ano, após submetidos a exame teórico e prático das matérias, os estudantes recebiam um Certificado de Conclusão do Curso Primário, datado e assinado pelo Diretor do estabelecimento.
A não aprovação em todas as provas para a transferência ao curso seguinte significava permanecer no que estava. Voltaremos na próxima oportunidade com mais detalhes sobre essa “Época de Ouro” da saudosa e então Villa Raffard.
ARTIGO escrito por Denizart Fonseca, Cidadão Rafardense, oficial da FAB e professor de Educação Física e Desportos, colaborador desde a fundação do jornal O Semanário
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