04/07/2014
Raízen derruba mais uma casa na Fazenda Leopoldina
Moradores temem perder o emprego caso contrariem a vontade da usina; empresa alega que os procedimentos são realizados mediante diálogo com os funcionários
RAFARD – Após denúncia de um morador, o jornal O Semanário foi até a Fazenda Leopoldina na manhã de quarta-feira, 2, e presenciou a demolição de mais uma casa pela Raízen. Segundo ele, os moradores estão se sentindo pressionados, por serem funcionários da empresa, a deixarem suas residências para que a usina reutilize as terras. A família que desocupou a casa há três meses não foi localizada e, de acordo com vizinhos, atualmente está pagando aluguel.
A Raízen admite que há um processo em andamento de desocupação das casas existentes nas colônias, no entanto garante que “tem dialogado com cada morador para encontrar a melhor solução”, e diz se sentir “solidária às questões sociais de Rafard e das famílias”. Mas, para uma vizinha de 43 anos, que mora na fazenda há 14 com o marido e dois filhos, “as pessoas saem porque têm medo de contrariar a empresa e perder o emprego”.
Segundo ela, após três reuniões com a usina, cinco famílias já deixaram seus lares. Ainda restam 12. No local, outra residência teve seu telhado, portas e janelas retiradas pela empresa. A ação expôs o interior da casa ao lado, que é geminada. Questionada sobre o número de imóveis que ainda serão derrubados, visto que o trabalho envolve mais duas fazendas – Itapeva e Coqueiro –, a Raízen preferiu não se pronunciar por enquanto.
Repercussão
Com o auxílio de uma retroescavadeira, uma pá-carregadeira e um caminhão basculante, o casarão nº 560 foi derrubado por volta das 9h30. A ação indignou internautas, os quais se manifestaram por meio da rede social Facebook. Segundo o aposentado José Antonio Belanga, 61, a demolição é um problema que vem desde os anos 80, com a incorporação da moradia ao salário dos empregados rurais.
“Em resposta, os empresários começaram a demolir, o que provocou um problema social com o inchaço e o favelamento das cidades e o esvaziamento do campo”, afirma. O vendedor Edmilson Quibáo, 51, que já morou com a família na residência demolida, lamentou o ocorrido. Para ele, “uma cidade sem história é um povo sem memória”. “Vivi boa parte da minha infância nessa casa e só tenho boas recordações”, conta.
Na mesma linha, a bióloga Maria Marconato, 59, também manifestou aversão à situação. “Um povo sem conhecimento da sua história, origem e cultura é como uma árvore sem raízes”, diz ela. “Morre, com isso, uma parte da história de Rafard. Que pena. Esse é o progresso que esta empresa trouxe para a cidade”, critica o empresário Sandro Morete, 41.