Você que já está na era Balzaquiana, assim como eu estou, alguma vez parou para pensar como antigamente tudo era diferente, que até mesmo o ar, o clima era outro, as pessoas, as construções. Para que se possa ter uma ideia da época a qual me refiro, nesse tempo as ruas da nossa cidade que não eram calçadas com paralelepípedos, eram de terra e os quintais da maioria das casas, eram como uma chácara.
Na Maurício Allain, que é a rua mais antiga, podia se ver crianças descalças correndo, brincando, alegres, enquanto noutras ruas, a criançada brincava na terra, todas elas, contentes com o pouco que os seus pais podiam lhes dar…
Por outro lado, tínhamos também, lindas casas de família de posses, enfeitadas com cortinas de renda branca, que pareciam sussurrar poemas de amor ao balanço do vento, cujos filhos, brincavam todos na rua, sem nenhum preconceito, com as demais crianças.
Quase todas as casas possuíam um imenso quintal com pomar e quase toda família tinha sua horta particular, muitas árvores que atraiam uma infinidade de passarinhos de todas as espécies, e sempre aos fundos o galinheiro barulhento, cujo som estridente do cantar do dono do terreiro e das galinhas ao botar, ecoava ao longe.
No interior das casas, a diversão dos adultos era ouvir os programas, cujo som dolente do rádio nas tardes, se espalhava pela vizinhança, contando e cantando histórias de amor com finais felizes.
Tens aí, um retrato pronto e acabado, irretocável de como era a vida das famílias que, vivendo na simplicidade ou algumas com um pouco mais, que mesmo com as diferenças, de igual modo, respiravam pura felicidade.
Mas o tempo passou, e o cimento encobriu as terras dos quintais das casas, e o asfalto, das ruas e avenidas que eram de terra, que nos dias de chuva fazia emanar um perfume inconfundível de terra molhada, modificada pelo ozônio liberado ao contato com a água.
Os meninos de pés sujos do barro vermelho das ruas e quintais de terra cresceram e foram embora. Estudaram, se formaram, e hoje são doutores, mas as ruas permanecem no mesmo lugar.
A linda casa cerrou suas janelas e não se vê mais as lindas cortinas de rendas, balançando ao vento. O rádio emudeceu com o barulho ensurdecedor das máquinas motorizadas. Hoje só se ouve ruídos. A cidade nem parece a mesma daqueles anos que hoje sabemos serem os nossos anos de ouro.
Olho para trás com muita pena, mas ao mesmo tempo com muita alegria. Pena de tudo ter se perdido com o decorrer dos anos, e alegria de ter sido privilegiado com os melhores anos de minha vida, vividos nesta querida cidade, que apesar de tudo, é o lugar onde nasci, e ainda vivo…