Opinião

Quinquim, o grande homem que fez história

22/05/2015

Quinquim, o grande homem que fez história

Artigo por Leondenis Vendramim
Leondenis Vendramim é professor de Filosofia, Ética e História (Foto: Arquivo pessoal)
Leondenis Vendramim é professor de Filosofia, Ética e História (Foto: Arquivo pessoal)

Quero aproveitar a data de 13 de maio, dia da extinção da escravidão dos negros em todo o Brasil, para escrever sobre um dos mais notáveis abolicionistas, Joaquim Aurélio Barreto Nabuco de Araújo, o popular Joaquim Nabuco, conhecido na infância como Quinquim de Massangana. Nasceu em Recife, famosa “Veneza Brasileira” no dia 19 de agosto de 1849. De família ilustre, pai, avô e bisavô, barões, Senadores do Império. Filho de José Tomás Nabuco de Araújo e Ana Benigna Nabuco de Araújo. Viveu seus primeiros oito anos com os padrinhos Joaquim Aurélio de Carvalho e Ana Rosa Falcão de Carvalho, no Engenho Massangana (recebeu o nome do padrinho e apelido do local). Foi amamentado por uma negra, teve um pajem instrutor e professor (Caetano da Rocha Pereira), pagos pela madrinha. Formou-se na Faculdade de Direito de Recife. Foi político, diplomata, historiador, jurista, jornalista, escritor, fundador da cadeira nº 27 da Academia Brasileira de Letras. Em sua homenagem comemora-se, no dia do seu aniversário, o Dia Nacional do Historiador.

Em 1857, foi estudar no Colégio Pedro 2º, no Rio de janeiro, e logo ingressou na Faculdade de Direito de São Paulo, com menos de 17 anos. Entre seus colegas estavam Rodrigues Alves, Afonso Pena, Castro Alves, o poeta dos escravos e Ruy Barbosa. Ingressou na Faculdade de Direito de São Paulo, que era um dos principais centros liberais e abolicionistas do Brasil Imperial.

Ainda estudante escrevia matérias para os jornais, fundou o “Tribuna Livre”. Já mostrava seus anseios por um regime livre da escravidão. Foi presidente do Ateneu Paulistano, associação estudantil cujo lema era Deus, Pátria e Liberdade. Em 1869 continuou seus estudos em Recife onde se tornou diplomata. Em 1887 foi eleito Deputado Geral da Província do Rio de Janeiro, onde passou a defender a abolição da escravidão, criou a Sociedade Contra a escravidão, condenou a utilização do Exército para captura de escravos fugitivos e participou das comemorações da Lei Áurea no dia 13 de maio de 1888. Conta o próprio Quinquim:

“Eu estava uma tarde sentado no patamar da escada exterior da casa, quando vejo precipitar-se para mim um jovem negro desconhecido, de cerca de dezoito anos o qual se abraça aos meus pés suplicando-me… que o fizesse comprar por minha madrinha para me servir… porque o dele, o castigava, e ele tinha fugido com risco de morte… Foi este o traço inesperado que me descobriu a natureza da instituição com a qual eu vivera até então familiarmente, sem suspeitar a dor que ela ocultava”.

A seu pedido, sua madrinha comprou o escravo e lhe deu de presente. Este episódio e as influências das ideias iluministas recebidas durante seus estudos e trabalhos nos EUA e Europa fizeram de Joaquim Nabuco um dos ferrenhos abolicionistas, quer escrevendo, quer sermonando. Ele escreveu: “A escravidão permanecerá por muito tempo como a característica nacional do Brasil”. “O verdadeiro patriotismo é o que concilia a pátria com a humanidade”.
Além da emancipação dos escravos, Joaquim Nabuco defendeu a liberdade de consciência, a obrigatoriedade do casamento no civil, a secularização do cemitério (os casamentos eram oficializados apenas pela igreja Católica, que também administrava os cemitérios – os não católicos não teriam seu casamento reconhecido e não podiam sepultar seus mortos no cemitério do governo), a democratização do solo, a separação entre Estado e Igreja (o clero era pago com os impostos), temas que fervilhavam.

Teve um longo romance com a milionária Eufrásia Teixeira Leite – dizia que não podia casar-se devido aos seus compromissos com a abolição, o que lhe consumia todo o tempo – casou-se com Evelina Torres Soares Ribeiro (também da estirpe de barões) com quem teve cinco filhos. Produziu farta literatura, brilhantemente advogou a causa dos limites entre Brasil e Guiana Inglesa, fez conferências nas universidades de Londres e Washington, onde, em 1910 faleceu sendo transladado para Recife.

O espaço só nos permite esta sucinta biografia, mas com certeza o suficiente para  sabermos que Joaquim Aurélio Barreto Nabuco de Araújo teve uma vida digna de exemplar cidadão que soube honrar o Brasil.

Jornal O Semanário

Esta notícia foi publicada por um dos redatores do jornal O Semanário, não significa que foi escrita por um deles, em alguns dos casos, foi apenas editada.

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