Quando um jovem jogador como Helinho, 18 anos, entra na equipe principal do São Paulo em um clássico contra o Flamengo e após apenas alguns minutos em campo marca um golaço todos se perguntam e se indignam: como esse garoto não teve oportunidade antes? Parece óbvio para muitos que se alguém faz sucesso nas categorias de base repetirá também o mesmo desempenho no profissional. Afinal, é a mesma coisa, dizem os mais apressados. Porém uma análise mais sistêmica e um olhar um pouco mais atento para a própria história mostram que as coisas não são tão simples assim.
Há dois fatores que mudam por completo a dinâmica de um jogo profissional se comparado a um de base: imprensa e torcida. A presença desses dois elementos age diretamente na esfera emocional da partida – dentro de uma visão sistêmica entendemos o jogo como técnico, tático, físico e emocional, tudo junto ao mesmo tempo. As competências exigidas e as relações do ambiente profissional são bem diferentes do que acontece em um jogo do sub-20, por exemplo.
Por isso, a observação do dia a dia, principalmente comportamental, é fator decisivo para saber quando um jogador está pronto para fazer a transição. Entender se após um erro esse menino crescerá ou ficará abatido. Ou então avaliar se sua personalidade é focada em aprendizado e crescimento ao invés de soberba e autossuficiência.
Já vimos jogadores arrebentarem nas categorias de base e sumirem no profissional. Ou então atletas despontarem em equipes de cima de maneira tardia, após os 20 anos – vale sempre também avaliar a maturação física, que varia de ser humano para ser humano. Ou seja, cada caso é um caso. Neymar com 17 anos já se sentia a vontade no profissional do Santos. Taison foi arrebentar apenas no sub-23 do Internacional.
Não há todos os elementos para analisar se um jogador está pronto ou não apenas vendo seus jogos – com o perdão do contraditório que isso possa parecer. Por mais que o campo ‘fale’ e no final das contas é o que se produz dentro das quatro linhas que contará, há inúmeros outros fatores envolvidos que na maior parte das vezes fica oculto para quem está de fora.
Portanto, torcedor: segure a ansiedade e tenha calma e confiança que se um técnico do profissional não coloca a joia da base para atuar é porque ainda falta alguma coisa.
ARTIGO escrito por Marcel Capretz
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