De repente, uma vontade de escrever
E eu pego na caneta
É como se, com alguém, eu estivesse conversando
E esse alguém me perguntando, e ali proseando eu vou contando
E no tempo chego até a me perder
E a caneta vai deslizando no papel, aí então eu me vejo lá distante
Como se eu estivesse voando e cruzando o infinito do céu
Chego numa casa na beira do rio, com varanda e dois arcos
Uma mureta de cada lado
De um lado, um vaso de guaimbê
Do outro, uma roseira
Que enroscando em um de seus galhos, quebrei sem querer
Vejo minha mãezinha com avental sujo de trigo, estava batendo um bolo
No mesmo instante ela para, coloca uma rudia na cabeça, equilibrando um balde
Levando mais dois enroscados no bigolo
Desce por um triozinho, o capim vai ralando as pernas
Até chegar à bica d’água
E eu sempre lhe acompanhando
Lá na cozinha, enquanto o bolo assa, mamãe não perde tempo
Vai passando as roupas com um ferro a brasa
Continuo proseando comigo mesmo, e o papel vai acabando
Vou chegando até o fogão de lenha, o café aquecendo ou conservando
Tomo um gole com vontade, e ali, num canto do fogão
Nosso gatinho observando
À tarde o papai chega, e com mamãe vai conversando
E até se abraçando
Depois de deixar num canto a cesta que levou a comida
E o corote de madeira
Toma um café
Depois tira o sapatão, bate no chão para tirar a terra que veio no pé
E já vai descendo na cozinha, olhando lá embaixo a criação
Que de longe já conhece seu dono, pois é hora da comida
E no terreiro, no chiqueiro, é aquela confusão
Assim termina a minha prosa
Papai e mamãe descansam depois de um banho de bacião
Ainda ouço os dois conversando baixinho, até pegar no sono
Que saudade daquele tempo diferente
Mas que era tão bom
Um tempo diferente
Diferente de hoje
Que só me traz recordação
