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Procuram-se pessoas boas

Acompanhar o noticiário, de anos para cá, apesar da necessidade de estarmos relativamente informados daquilo que se passa nesta Terra de Santa Cruz em particular e no mundo em geral, mesmo porque deve ser objeto de nossas orações, tem sido tarefa exigente de tão penosa e desagradável que se tornou.

Com o perdão pela ironia, faz lembrar a antiga propaganda para aqueles que pretendiam, digamos, “beber além da conta”: “um Engov antes e outro depois”.

Vivemos uma crise de lideranças sem precedentes! Pare e pense: hoje, quem são as pessoas que servem de “farol”, que transmitem segurança e credibilidade pelo que falam e pensam, nos cenários nacional e internacional? E pode escolher a área: política, esportiva, jurídica, religiosa.

Peço ao amigo leitor não me tachar de genérico, pois a fim de evitar polêmicas desnecessárias não declinarei nome de algum “líder”, também não tendo a intenção desqualificar todas as pessoas que estejam em posição de liderança.

Rogério Sartori Astolphi, Juiz de Direito. Foto: Reprodução internet

Fixando-se no Brasil, seguramente nossos homens públicos, notadamente os que estão altas posições de comando, encabeçam o ranking dos que desistiram de ser bons. Depois, é possível que venham os jornalistas, em particular os da chamada “grande mídia” (mass media), seguidos, não necessariamente nessa ordem, por empresários, militares, chegando até os estratos mais simples da população.

O “toma-lá-dá-cá” na política nunca termina, antes se reinventa. “Emendas Pix” ou “orçamento secreto”, por exemplo, consistentes na liberação de bilionárias verbas para Deputados Federais e Senadores, são a régua para governar.

Como o Executivo central não tem o mínimo respaldo legislativo para encaminhar sua agenda, a pretexto de garantir a chamada “governabilidade” acaba por cooptar boa parte do Poder Legislativo entregando, sem maior controle da destinação, polpudos valores, costumeiramente pagos quando há pautas de seu maior interesse. É só constatar o que vem se sucedendo com a votação dos projetos de lei para regulamentação da chamada “reforma tributária”. E falam, sem o menor pudor, que isso se chama “fazer política”…

Agrava a situação dessa conjuntura a atuação tantas vezes errática e, consequentemente, geradora de insegurança jurídica, do Poder Judiciário, cuja missão universal de apaziguar conflitos sob o império da lei tem-se demonstrado mais distante.

Essa é a crítica de respeitados juristas e jornalistas, inclusive alguns de perfil mais liberalizante, ao afirmarem que estamos nos deparando com posturas como a do Judiciário se imiscuindo em pautas primordialmente reservadas aos outros Poderes, abandonando a autocontenção tão cara ao sacerdócio do Juiz, e, por vezes, ditando regras de conduta social que nem o legislador, nem o governante, quiseram adotar.

Além desses frequentes episódios, igualmente questionam aqueles em que se evidencia que a decisão foi “tomada pelo fígado”, posto manifestamente desarrazoada ou desequilibrada.

Torna ainda pior esse quadro o estado comatoso em que se encontra o princípio constitucional da soberania e independência entre os Poderes, pelo qual um equilibra o outro em havendo desvirtuamentos, impondo soluções jurídicas para frear os excessos cometidos (em inglês “checks and balances”, ou “freios e contrapesos”).

Quanto aos meios de comunicação, as redações dos jornais, TV’s e sites de notícias de maior circulação, estão dominadas por pessoas cuja parcialidade política, ou partidária mesmo, e o descompromisso com a verdade do fato, encontram-se sentadas atrás de cada computador. Prevalece a narrativa, a historieta ao sabor da preferência de turno, invariavelmente centrando fogo no mensageiro e não analisando com critério a mensagem. Isenção na abordagem do fato é espécime em extinção.

Paulo Polzonoff, jornalista da “Gazeta do Povo”, tempos atrás escreveu um artigo intitulado “Você desistiu de ser uma pessoa boa?”, e que me serviu de inspiração pelo estímulo à reflexão. Cito o trecho que mais me achou a atenção: “(Há) uma desistência no atacado.

E que parece definitiva, mas tomara que não seja. Mais do que isso, me parece que a ideia de ser uma pessoa boa hoje em dia se tornou um obstáculo para os que adoram o grande bezerro de ouro do nosso tempo: o sucesso. Não à toa, o homem bom é visto como um otário, quando não como um perdedor. E aqui chego a um momento crucial desta missiva, quando olho nos seus olhos e lhe pergunto: você também desistiu de ser uma pessoa boa?”

A minha resposta a essa provocação é um sonoro “Não!”, apesar de meus tantos pecados e misérias. E rogo ao Bom Deus que o amado leitor aja da mesma forma, como nos exorta São Paulo: “Não te deixes vencer pelo mal, mas vence o mal com o bem” (Rom 12,21). Ou se preferir, o salmista: “Não te irrites por causa dos maus, nem invejes os que praticam injustiça; pois, como a erva, eles secam depressa, eles murcham como a verde relva. Confia no Senhor e faze o bem” (Salmo 37,1-3).

Que nossa Mãe do Céu interceda para seguirmos fortes e justos na prática do bem e na missão que o Senhor confia a cada um de nós!

Abraços fraternos!

Rogério Sartori Astolphi
Juiz de Direito

Jornal O Semanário

Esta notícia foi publicada por um dos redatores do jornal O Semanário, não significa que foi escrita por um deles, em alguns dos casos, foi apenas editada.

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