Confesso que penso muito antes de escrever um texto. Faço uma seleção mental de tudo que tem acontecido e pinço algo – ou positivo ou negativo – que me chama a atenção para destrinchar com certa profundidade em alguns parágrafos. E quando observo o que acontece no gigante São Paulo Futebol Clube, tricampeão do Mundo, dono da terceira maior torcida do país, a maioria dos fatos é desabonadora.
Como acompanhar a coletiva de apresentação do atacante Raniel, ao lado do diretor Raí e do gerente Alexandre Pássaro, e achar que está tudo bem? Olha só, torcedor: não estou falando de ele ter sido reserva o ano todo no Cruzeiro. E também não estou falando da fortuna que custou – 13 milhões de reais (!). Ou melhor, tem a ver com grana sim.
O dinheiro usado para pagar a equipe cruzeirense veio de um empréstimo de um empresário. Isso mesmo, uma pessoa física, com interesses que em algum momento podem ser conflitantes, tem o dinheiro que o gigante do Morumbi não tem. Está certo isso? Esse modelo de gestão tem alguma chance de dar certo? A ausência de conquistas recentes do São Paulo responde por si só.
Quero deixar bem claro que esse “modelo” de negócio tem sido uma praxe entre os clubes brasileiros. O próprio São Paulo fez isso no ano passado para contratar o meia Everton, que estava no Flamengo. O Tricolor representa aqui para mim um problema crônico, impregnado nos clubes brasileiros, que atende pelo nome de dirigente estatutário.
As pessoas que tem a caneta nas mãos são apaixonadas pelo time, como o torcedor que está na arquibancada. Nada os difere. Nenhuma preparação, nenhum curso. Nada.
Se o São Paulo pegasse esse dinheiro no banco os juros seriam maiores. Se pagasse o Cruzeiro com recursos próprios talvez atrasasse salários e/ou direitos de imagem. Compreenda que o caso Raniel é um sintoma da doença que tem o clube. A conta não fecha. Se gasta mais do que se arrecada. As dívidas não param.
E repito:não estou entrando na área técnica. Porque se entrasse sobrariam argumentos reiterando que Raniel não tem esse valor de mercado. Mas aí teria que falar também da estranha contratação de Biro Biro, da mais estranha ainda liberação de Diego Souza ao Botafogo e o texto ficaria insuportavelmente longo.
São-paulino, esqueça os outros clubes e foque no seu. Resumindo: o poderoso Tricolor do Morumbi é tão mal administrado que tem que pedir dinheiro emprestado a uma pessoa física para contratar um reserva do Cruzeiro. Não cobre só o Cuca, só o Pato, só o Hernanes. Cobre quem está assinando por tudo isso.
ARTIGO escrito por Marcel Capretz
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