No meu tempo de criança, lá pelos idos dos anos 65, lembro-me como se hoje fosse, próximo ao pórtico da entrada da nossa igrejinha, tinha uma peça de metal fixada no piso da calçada, onde as pessoas limpavam seus sapatos, chinelos ou outro calçado que fosse em dias que chovia e as ruas ficavam com barro, tendo em vista que, como já escrevi em postagens anteriores, as nossas ruas que ainda não tinham paralelepípedos, eram de terra, e quando chovia era um lamaçal.
O gesto das pessoas ao chegarem era no sentido de esfregar por várias vezes seus pés naquela peça, para não levar para dentro da igreja, o barro que grudava e se acumulava como uma pasta na sola dos calçados, ao pisar a terra molhada.
Havia na entrada de nossa igrejinha, uma peça para cada lado das portas de entrada, tal qual essa da foto.
Pessoas com bem mais idade que eu, contavam que no tempo delas, muitas famílias, sequer tinha um bom chinelo para calçar os pés. E estes aos quais me refiro, não limpavam os calçados, mas os próprios pés na peça de metal.
Não há como negar que a discriminação sempre existiu desde sempre, e a expressão incorporou o dia a dia das pessoas que viveram naquela época, e não é que até hoje se ouve dizer sobre alguém que tem pouca condição financeira, que o mesmo é um pé rapado, e olha que aqueles hoje os tempos são outros e quase todos usufruem de alguma comodidade.
Assim, quando alguém queria “diminuir” uma determinada pessoa, ou um interessado em namorar a sua filha, o pai logo tascava: – Esquece ele filha! É um pé rapado! Não tem um gato prá puxar pro rabo, nem tem onde cair morto… é um Zé ninguém.
Veja caro leitor que são todas expressões acima similares, mas que no fundo tem o mesmo significado e objetivo que é desfazer daquela pessoa determinada.
A expressão pé rapado era usual quando se desejava separar os pobres que andavam a pé daqueles que usavam como meio de transporte cavalos, charretes ou até mesmo carros, pois estes, diferentes daqueles, não pisavam o barro.
Houve tempo aqui em nossa cidade, e, creio não ter sido diferente nas demais cidades interioranas como a nossa, que os jovens quando iam aos bailes à noite e não tinham meio de transporte a não ser as próprias pernas, em dias chuvosos, levavam seus calçados numa sacola e marchavam a pé para o local do evento. Antes, porém, de lá chegarem, paravam em um local com água, e, depois de lavarem os pés e secar com uma toalha, colocavam seus sapatos que estavam preservados e entravam no salão todos bem apresentáveis e com os sapatos reluzentes.
Em Capivari temos um lugar onde era local de parada para os jovens limpar os pés, que por ser muito utilizado, ficou famoso a tal ponto que até hoje se conhece aquele local por “ponte do lava-pés” que o caro leitor deve conhecer, ou já ouviu dizer.
Dessa forma, trouxe a você, um pouco mais sobre a origem de expressões que se usa no cotidiano das pessoas e que às vezes, sequer sabe-se de onde surgiram.