13/07/2015
Padre fundador do Instituto das Filhas de São José, de Porto Feliz, é beatificado
Missa em ação de graças foi celebrada no domingo, na Catedral da Sé, em São Paulo; Luís Caburlotto apareceu em sonho e fez mulher andar
PORTO FELIZ – Uma missa em ação de graças pela beatificação do veneziano Luís Caburlotto, cuja congregação está presente em Porto Feliz, foi celebrada no último domingo, 12, na Catedral da Sé, em São Paulo. A missa foi presidida por Dom Odilo Pedro Scherer, cardeal arcebispo do município. A beatificação foi concluída a partir da confirmação de seu primeiro milagre, alcançado pela italiana Maria Grazia Veltraino.
Caburlotto foi o primeiro padre a lutar pelos direitos da mulher em pleno século 19. Na época, ele também teve um importante papel na vida de jovens de baixa renda. Em 1850, Caburlotto fundou na Itália o Instituto das Filhas de São José e, antes de morrer, um de seus últimos pedidos foi que a obra fosse levada à América Latina, mais especificamente ao Brasil.
Então, em 1927, as irmãs Filhas de São José iniciaram um trabalho educativo em um casarão antigo no interior de São Paulo, com crianças e adolescentes de baixa renda, desde a educação infantil até o ensino médio. A Escola São José de Porto Feliz, que carrega o lema “Amar Educando e Educar Amando”, em atividade desde 1934, também oferece curso de bordado e alfabetização para adultos.
Maria Grazia, hoje com 84 anos, havia sido diagnosticada com uma doença crônica nos músculos (dermatomiosite) que a colocara em uma cadeira de rodas, há cerca de dez anos. As condições clínicas e físicas da idosa eram de imobilidade quase total. Ela foi piorando progressivamente e ficou em estado caquético por volta de 2001, chegando a pesar 24 quilos.
O milagre de Caburlotto fez com que Maria Grazia voltasse a andar e nunca mais sentisse dores. Ela conta que, em 2008, o padre apareceu em sonho no jardim do prédio onde mora, em Roma, e ordenou que ela andasse. “Procurava aproximar-me dele sem sucesso, mas de repente eu senti um empurrão e ele com uma voz autoritária me disse: ‘caminha’”, relatou aos peritos do Vaticano.
“Para dizer a verdade, na hora eu fiquei com medo, porque praticamente acordei de sobressalto, mas então cumpri a ordem e, não sentindo as dores de costume nos membros, eu saí da cama sem ajuda da bengala e comecei a me movimentar pela casa”, contou a mulher, que chegou a morar na rua.
Aos 19 anos, Maria Grazia foi encontrada em uma escadaria por madre Girolama Paladin, que a convidou para viver no instituto, onde estudou, passou a viver com dignidade e se tornou enfermeira. Órfã desde os seis anos, ela saiu do abrigo onde morava quando completou 18 e, até então, fazia bicos para sobreviver, mas vivia em uma situação de extrema pobreza.
Após relutar, aceitou ser transformada pela obra de Caburlotto, desenvolvida dentro do abrigo, e criou uma intimidade muito forte com o padre. Apesar de serem de épocas diferentes, o trabalho que ele iniciou no século 19 foi capaz de salvar sua vida e ela, por sua vez, nunca deixou de rezar pelo padre, sempre conversando com ele, pedindo pela sua interseção durante as orações.
Por isso, a vida de Maria Grazia é considerada personificação da obra de Luís Caburlotto, que já tirou milhares de meninas abandonadas na região do porto de Veneza – e também no Brasil – da miséria. Entretanto, quando questionada sobre o porquê de o milagre ter acontecido justamente com ela, a resposta é sempre a mesma: “o milagre não foi para mim, foi para o Instituto das Filhas de São José”.
Beatificação e Canonização
Muitos confundem beatificação com canonização. Beatificação é o reconhecimento feito pela Igreja de que a pessoa pode interceder por aqueles que lhe recorrem em oração. Para se tornar beato, é necessária a comprovação de um milagre por sua intercessão, além da obra que desenvolveu durante a vida. Uma vez atingida essa condição, procede-se o processo de canonização.
No Brasil, quem passa por esse processo é a irmã Dulce, beata nascida na Bahia que tem três milagres sendo analisados pelo Vaticano. Se comprovados, ela será a segunda santidade brasileira – a primeira foi Frei Galvão, santificado por Bento 16, em 2007. Segundo o Código Canônico, alguém só pode ser canonizado, ou seja, se tornar santo, quando um milagre ocorre após a santificação. É esse o processo pelo qual Caburlotto passará daqui para frente.