30/05/2014
Padre D’Elboux lança pré-candidatura a deputado estadual
Após 3 anos, pároco se despede da Paróquia Nossa Senhora de Lourdes para iniciar campanha política; barbarense lutará por reajuste salarial dos professores, segurança e saúde
RAFARD – “Lá também é lugar de evangelizar”, profetizou o padre Antônio Carlos D’Elboux, 60, na última segunda-feira, 26. Ele se referia à Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo, lugar este que poderá ser frequentado por ele no próximo ano, dependendo do resultado da eleição presidencial que se aproxima (5 de outubro). “Tudo me leva a crer que tenho grandes chances de ganhar.”
Em entrevista exclusiva à Rádio R FM e ao jornal O Semanário, o pároco da Paróquia Nossa Senhora de Lourdes, em Rafard, confirmou sua pré-candidatura a deputado estadual de São Paulo pelo Partido Social Democrático (PSD). Com 35 anos de sacerdócio, D’Elboux afirma que não irá deixar o clero, pois “padre não deve ser político para sempre”.
Para se dedicar à candidatura, além de trancar a matrícula do curso de Direito, o padre deixa a cidade no próximo dia 17, somente três anos após tomar posse da paróquia rafardense (30 de janeiro de 2011). Natural de Santa Bárbara d’Oeste, D’Elboux retorna à casa da família assessorado pelo irmão e presidente do diretório do PSD em SBO, Paulo César D’Elboux.
Rádio R FM: Padre, o senhor é mesmo pré-candidato a deputado estadual?
Padre Antônio Carlos D’Elboux: Sim. Sou pré-candidato pelo Partido Social Democrático (PSD). Recebi a licença excepcional do bispo Dom Fernando Mason e agora estou aí. Não posso dizer publicamente que sou candidato, porque isso é somente após a convenção e o registro no Tribunal Eleitoral. Mas sou pré-candidato, ou seja, estou me pré-dispondo a ser candidato.
Meu irmão Paulo César D’Elboux é presidente do diretório do PSD em Santa Bárbara d’Oeste há muito tempo e ele sempre foi ligado ao presidente nacional, o Gilberto Kassab. Nesse sentido de fidelidade, nas mudanças de partido, meu irmão sempre seguiu o Kassab e tem um aval muito bom, tanto do partido, quanto do tesoureiro, que é o primo dele, o outro Kassab.
R FM: Existe mais alguém da sua família que militou na política em Santa Bárbara d’Oeste?
D’Elboux: Só meu irmão mesmo. Ele é político há muito tempo. Foi candidato a prefeito, é formado em Direito e tem mestrado em Marketing Político. Das dez campanhas feitas por ele, perdeu apenas duas. E é ele quem está me assessorando.
R FM: O senhor acredita que o partido poderá ver algum problema em sua candidatura?
D’Elboux: Eu penso que não, porque já recebi um comunicado do presidente nacional do partido, dizendo estar muito feliz em saber que meu nome está concorrendo à candidatura pelo PSD.
R FM: Sua cabeça já deve ter “entrado em parafuso” muitas vezes por conta dessa candidatura, não?
D’Elboux: Sinceramente não. Vamos começar do começo: dois dias antes do término das inscrições – é preciso se filiar a um partido um ano antes das eleições – meu irmão me ligou perguntando se eu gostaria de me inscrever no PSD. Eu disse que não havia motivo, já que não tinha intenção de me candidatar a nada, mas ele insistiu: “vamos, você fica participando”. E eu disse: “quais são os compromissos?” “As reuniões, mas você vai se quiser”. Então eu falei: “bom, se é só isso pode me colocar”. Depois, fui assinar a papelada. Mas meu irmão já tinha tudo em mente.
Há seis meses, um prefeito reeleito da região procurou meu irmão e ofereceu determinado valor em dinheiro, desde que eu saísse como dobradinha para apoiar a irmã dele a deputada federal. Meu irmão, então, me ligou e eu falei um palavrão, disse “vá para aquele lugar” e assunto encerrado.
Passados mais ou menos 30 dias, outro político, deputado federal, foi à Rádio Brasil, em SBO, e disse ao meu irmão que gostaria de fazer dobradinha comigo, se oferecendo para colaborar com a campanha também. Daí, o Paulo me ligou e eu respondi com o mesmo palavrão. Só que ele disse assim: “eu falei para ele que nós iríamos conversar e que daria a resposta somente depois do Carnaval”.
Nesse meio tempo, ele fez uma pesquisa de mais ou menos 50 pessoas em SBO – parentes, amigos e lideranças. E, depois, veio conversar comigo. Eu fiquei espantado porque, das 50 pessoas, somente uma prima minha foi contra, alegando que padre não deve se candidatar. Porém, ela garantiu que se mesmo assim eu resolvesse fazê-lo, me apoiaria. Quer dizer, foi praticamente unânime.
A partir daí, comecei uma pesquisa no Facebook. Numa das publicações, mais ou menos 150 pessoas responderam. Das quais, apenas 15 foram contra, sendo que dez delas disseram o mesmo que minha prima: “eu acho que não deve, mas se você for conte comigo. Nós vamos ajudá-lo, vamos votar e batalhar”.
Depois consultei deputados. Hoje, dos 94 deputados estaduais em São Paulo, 14 são pastores de igrejas evangélicas, das mais diversas. Em contraponto, temos apenas um padre católico, que é o padre Afonso Lobato (PV), de Taubaté. Já está na terceira legislatura e, pelo que me falou, será candidato à quarta. Fiz várias perguntas a ele: “quando você se lançou, qual foi a reação?” Ele disse: “alguns padres foram contra, outros ficaram em cima do muro, e um bom grupo apoiou. Vai ser a mesma coisa”.
Então, perguntei se é verdade que na Assembleia Legislativa um quer puxar o tapete do outro, se o que manda é o partido etc. “Meu irmão, a Assembleia reproduz a sociedade. Os mesmos problemas que temos na sociedade temos lá. Além do mais, diante de tudo o que falam – que o partido que manipula, que você vem com boa vontade e não consegue nada – temos uma arma, o voto. Sim, não e me abstenho. Se é um assunto que você acha que o partido quer impor e você não deve votar, você se abstém. Cada um deve agir de acordo com sua consciência.”
Jornal O Semanário Regional: O que o padre D’Elboux pode trazer para a cidade?
D’Elboux: Eu posso ajudar muito mais Rafard como deputado estadual do que como padre dentro da cidade. Nossa população não chega a nove mil habitantes, dos quais, aproximadamente sete mil votam. Como deputado, posso conseguir verbas para a prefeitura e para as entidades.
Além disso, sempre fui uma pessoa de relacionamento. Tenho amizades com deputados estaduais e federais e posso conseguir verbas diretamente. Mas, o que faz um deputado estadual? Primeira coisa e a mais importante: faz leis e pode modificar as existentes, com a aprovação da maioria. A segunda: fiscaliza o Governo do Estado e todas as entidades ligadas a ele, a fim de saber onde está sendo aplicado o dinheiro arrecadado dos impostos pagos pelo povo.
E a terceira coisa é conseguir verbas para os municípios e entidades de filantropia que operam nas diversas cidades do estado. Por exemplo, para mim é uma afronta um grupo econômico deter 82% das terras de uma cidade. Alguém precisa legislar em cima disso. A sede dessa grande empresa, instalada há 300 metros do Centro, nem isso, paga impostos como se estivesse na área rural.
Goste ou não goste alguém precisa fazer alguma coisa. E outra, fazer em benefício da população. Se uma entidade como essa pagasse o imposto devido, o recurso para o município seria maior. Com isso, muitas coisas poderiam ser feitas em benefício do povo.
R FM: O senhor vai continuar morando aqui?
D’Elboux: Não. Vou morar em Santa Bárbara d’Oeste. Dia 17 de junho eu me mudo. Dia 15 termina a Festa de Santo Antônio, celebro a última missa na Capela Santo Antônio, e fico mais dois dias para prestação de contas. Já marquei reunião com os dois conselhos, o Econômico e o Pastoral, e com a Equipe de Festa.
Em seguida, inicio minha campanha como pré-candidato. Quero visitar as autoridades constituintes de todas as cidades, não importa se votarão em mim ou não. Vou visitar o prefeito, o presidente da Câmara, o juiz de Direito, o promotor, as faculdades. A gente vai ouvir o que eles têm para falar, o que eles querem e o que não querem, para abrir caminho e poder me colocar à disposição. Uma vez eleito é tudo mais fácil quando já se conhece. Não me interessa se o partido é A ou B. A cidade está acima de qualquer “picuinha” e de qualquer prefeito, deputado ou governador.
R FM: Achei que o senhor seria deputado e continuaria sendo padre em Rafard.
D’Elboux: Não. Eu saí e não sei se volto. Se eu perder, o bispo me dá uma paróquia. Se eu volto para Rafard ou não é o bispo quem determina. Mas pelo que conheço dele penso que não volto. Porque, em geral, ele não repete o mesmo lugar onde a pessoa já passou. Agora, se ele me pedir para voltar, voltarei contente, feliz da vida, sem problema nenhum.
Estou terminando o sétimo semestre de Direito. Depois, farei matrícula e, em seguida, vou trancar, pois não quero entrar “meia-boca”. Ou eu entro pra valer, trabalhando de manhã, à tarde e à noite, ou não entro. Posso perder, tenho humildade de pedir voto. Mas tudo me leva a crer que tenho grandes chances de ganhar. Ademais, você percebe que o povo está de “saco cheio” da classe política e quer mudança. Então, a impressão que tenho é que o cavalo está encilhado para mim. Eu só preciso montar.
R FM: Rafard ganha um candidato e perde um padre.
D’Elboux: Olha, se eu fosse conversar com o bispo e ele me dissesse “ou você deixa o Ministério Sacerdotal ou não será candidato” eu não seria candidato. Sou padre por opção e não delego. Entretanto, durante o período eleitoral não poderei exercer publicamente o Ministério.
A igreja católica é contra a participação política partidária ou sindical de padres e diáconos. Porém, a mesma regra do Código de Direito Canônico contém exceções. Então, o bispo me deu a licença, eu continuo padre, só que eu não posso exercê-lo justamente para não ir à igreja pedir voto.
O Semanário: Qual sua formação profissional?
D’Elboux: Sou formado em Filosofia pela Universidade de Passo Fundo (UPF), em Teologia pelo Instituto Teológico de São Paulo (Itesp), em Jornalismo pela Cásper Líbero e em Administração pela Escola Superior de Administração de Negócios (ESAN), ligada à Faculdade de Engenharia Industrial (FEI). Depois, cursei mestrado em Rádio e Televisão nos Estados Unidos e, atualmente, estou terminando o sétimo semestre de Direito na Faculdade de Direito de Itu (Faditu).
O Semanário: Comente um pouco a respeito das atividades desempenhadas dentro e fora da igreja.
D’Elboux: Fui professor universitário em Leme, Rio Claro, Piracicaba e Santa Bárbara d’Oeste. As duas últimas na Anhanguera, nas quais defendi a implantação do curso de Administração perante o Ministério da Educação (MEC). Trabalhei bastante em meios de comunicação, em gráfica, fui diretor das livrarias Paulus e ecônomo provincial. Trabalhei em favelas e bairros pobres. Fui pároco durante três anos em Compensa (Manaus), um povo muito bom.
E também trabalhei em Piracicaba. Junto a uma equipe, participei do início do Bosque dos Lenheiros. Nossa presença foi muito importante lá. Hoje, existem ainda as comunidades de São Paulo Apóstolo e Rainha dos Apóstolos, ambas fundadas por mim. Depois, ganhamos dois lotes de uma firma e compramos outros dois, para prepararmos a Paróquia da Sagrada Família, lá no Mário Dedini.
Foi comigo que começou tudo isso. Organizávamos grupos, tinha mês que dávamos 300 cestas básicas. Fizemos curso para gestantes, no qual preparávamos a mulher grávida com palestras e dávamos todo o enxoval – muito bom – para a criança. Todo esse serviço social foi prestado enquanto pároco e primeiro reitor do Santuário Nossa Senhora dos Prazeres, em Piracicaba.
Sabe o que me estimulou a ser político? Uma entrevista que o Papa Francisco deu a estudantes jesuítas e alguém perguntou algo a respeito de política. E ele respondeu: “Minha gente, vocês falam que a política é suja. A política é suja porque os cristãos não entram nela com espírito evangélico. Os cristãos se comportam como Pilatos, ou seja, só sabem lavar as mãos”.
Lá também é lugar de evangelizar. Lá também é lugar de testemunhar a misericórdia e o amor de Deus, a justiça dele em favor de todos nós. Eu acho que a evangelização é abrangente em qualquer lugar. É o mesmo que o papa falou a respeito dos homossexuais: “Quem somos nós para julgá-los? O importante é estarmos lá, no meio, como sinal, como presença”.
Ouvinte: O padre acredita que não católicos também votarão nele?
D’Elboux: Algumas igrejas evangélicas já são direcionadas, já têm seu próprio candidato. São votos de cabresto, quer dizer, não é você quem decide; alguém decide por você. Então, claro que aí não. Mas tenho amigos pastores, os quais já disseram que estão fazendo propaganda por mim. Portanto, sei que terei votos de gente não católica, mas conforme a igreja, pois algumas já têm seus candidatos – seus pastores.
R FM: Falando em marketing, qual seria o elemento a ser trabalhado na campanha de um padre?
D’Elboux: Da Diocese de Piracicaba, que está completando 70 anos, serei o primeiro candidato a deputado estadual ou federal. Todavia, já tivemos padre deputado em Capivari, no tempo do Império, o padre Fabiano. A Paróquia São João Batista foi construída por meio de uma lei feita por ele e aprovada, cujas usinas e empresas deveriam destinar 2% de suas rendas à igreja. Naquele tempo, era chamado deputado provincial.
E também tivemos padre candidato em Rafard, o qual foi eleito a vereador e, em seguida, renunciou. O padre Renato Lucchi, eleito para ajudar um candidato, cuja presença julgou importante na época.
R FM: Não há uma frequência de padres em propagandas políticas, não é?
D’Elboux: Nós temos, hoje, quatro padres deputados federais e alguns que são prefeitos, mesmo no estado de São Paulo, mas são poucos. A igreja não apoia, não incentiva, porque ela acha que é um papel específico do leigo. Eu penso diferente. Acho que, vez ou outra, precisamos de alguns padres.
Eu tive amizade com o padre Mário Calazans. Ele foi deputado estadual e um senador brilhante. Teve também o padre Godinho, o qual foi deputado estadual, federal e participou daquele jornal da Record que o pessoal dizia ser o “Jornal da Tosse”, porque era um grupo de idosos. Ele era mineiro, mas viveu em São Paulo.
Ou seja, eu mesmo conheci e conheço padres que estão aí desempenhando seus papéis na política. Mas acho que padre não deve ser político para sempre, de profissão. É por um momento, uma ou duas legislaturas e cai fora.
O Semanário: Como as pessoas da nossa cidade receberam a notícia da sua pré-candidatura?
D’Elboux: De início, algumas ficaram estupefatas. Mas outro dia uma senhora de 81 anos foi falar comigo na Matriz, e ela disse: “padre, eu tinha decidido que não ia mais votar, mas eu e meu marido já conversamos e nós vamos votar só para votarmos no senhor. O senhor trabalha, é firme. Nós vimos sua atuação aqui nesse período”.
Por onde passo fico surpreso, mas positivamente. As pessoas vêm se aproximando. Não fico pedindo votos porque nem posso. As pessoas é que vêm e falam que votarão em mim.
R FM: Padre, o senhor não tem medo de “queimar seu filme”?
D’Elboux: Não me preocupo porque não quero fazer carreira dentro da igreja. Se eu quisesse, essa candidatura já “queimaria” qualquer coisa. Mas estou tranquilo, numa boa. Estou preparado para ganhar e para perder.
Aqui em Rafard, por exemplo, iremos trabalhar para conseguirmos dois mil votos. Se conseguirmos 1.800 atingirmos a meta. Já temos tudo pronto, os cálculos, as metas para a nossa região.
Em Capivari, preciso de três mil votos. Na última eleição ninguém conseguiu isso. Vamos batalhar, é claro. Fazer reuniões na época certa, distribuir panfletos. É uma campanha política.
O Semanário: A política nasceu dentro da igreja católica?
D’Elboux: Não. Ela também nasceu dentro da igreja. A política é a arte de bem governar, de evidar esforços em vista do bem comum. A igreja sempre apoia o político com “p” maiúsculo. Só que ela é contra a política partidária e não apoia candidato A ou B, exceto se determinado candidato, na plataforma política, agir contra a doutrina da igreja. Nesse caso, ela não tem medo de dizer “esse não, por isso ou aquilo”.
Mas política partidária a igreja não apoia e não incentiva, justamente para não ficar dividida. Algumas pessoas são muito apegadas em partidos. Outro dia mesmo conversava com um prefeito, de outro partido, e disse a ele para ficar tranquilo. O que eu puder fazer para ajudar eu farei. Ele sabe que pode contar comigo.
A mesma coisa em Rafard e em Capivari. Durante uma conversa com o prefeito de Capivari, Rodrigo Proença (PPS), eu disse: “conte comigo sempre, independentemente do partido”. O partido é o meio necessário para que eu possa participar. É claro que cada partido tem seus programas, mas se você reparar na programação, os partidos são muito parecidos. É a prática que pode ser diferente.
Alguns bispos do Paraná são resistentes. Lá, eles não querem padres na política. Quem deseja entrar na política deve deixar o Ministério Sacerdotal. Dom Fernando não foi assim comigo. Continuo padre, não exercerei o sacerdócio durante a campanha (rezarei missas particulares em minha casa), mas fora do estado eu posso. Em julho tenho uma viagem marcada para Manaus e lá vou rezar missa e fazer batizado.
Na véspera da eleição, abençoarei um casamento numa cidade do Paraná. Eu só não posso dentro do estado. E, se eleito, serei mais ou menos como o padre Afonso. Ele não tem paróquia, mas celebra missas, faz casamentos, batizados e enterros. Não sei ainda se vou ter paróquia. Mas, por exemplo, se o padre Afonso tivesse ficaria complicado, devido às inúmeras reuniões realizadas à noite, em São Paulo. É até melhor não ter. A igreja sabe.
Ouvinte: Sua propaganda política será como padre Antônio Carlos D’Elboux ou somente como padre D’Elboux?
D’Elboux: O bispo pediu que eu evitasse o “padre”. Mas foi pedido, não ordem. Assim, combinei com meu irmão em atendermos o bispo em 75%. Porém, ainda estou em dúvida se usarei “Padre D’Elboux” ou “Padre Antônio”. Um desses dois vai. E no meu currículo vai também, né? Eu sou padre, as igrejas nas quais trabalhei estão lá. A dúvida é porque “Padre D’Elboux” é mais conhecido no clero. Entre o povo é mais comum “Antônio”. Então não sei, vamos estudar ainda.
O Semanário: Quanto ganha um deputado estadual?
D’Elboux: O deputado estadual ganha pouco mais de R$ 20 mil. Esse valor é o “limpo”. Depois, tem a assessoria: um deputado de São Paulo tem 32 assessores, carro à disposição e uma ajuda mensal de mais ou menos R$ 20 mil, que paga a correspondência, o aluguel de certo escritório ou mesmo de apartamento. É possível acompanhar essas despesas no site da Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo. Qualquer um pode acessar.
É muita verba? Sim. Mas se você usá-la em benefício do povo, para servir, acredito que não há problema. Eu já disse para algumas pessoas e agora falo em público porque eu jogo limpo: R$ 20 mil para mim é muito. Então, eu vou destinar R$ 10 mil por mês desse salário a obras sociais da região, como colaboração pessoal.
O Semanário: Em relação às emendas parlamentares, é destinada uma cota para cada deputado?
D’Elboux: Geralmente existe um acordo, por exemplo, R$ 2 milhões para cada um. Depois, os deputados precisam batalhar junto aos secretários e àquelas verbas que são devolvidas porque as pessoas não prestam contas, não fazem as coisas como devem ser feitas. Certas prefeituras não recebem ajuda porque não são organizadas, não sabem fazer projetos, não têm os imóveis do jeito que devem ser.
Portanto, em primeiro lugar as prefeituras precisam colocar “a casa” em ordem, porque senão é só balela. Daí sim pedir ajuda a um deputado estadual ou federal. O mesmo deve acontecer com as entidades filantrópicas. Se não tem o certificado de filantropia, não adianta pedir porque não irá conseguir.
R FM: Padre, uma dobradinha é sempre boa. O senhor já tem algum planejamento nesse sentido?
D’Elboux: Sim. Farei dobradinha com o deputado Guilherme Campos (PSD), de Campinas. Já é a segunda legislatura federal dele, está indo para a terceira. Foi prefeito de Campinas e presidente da Associação Comercial. A família dele é dona de uma loja conhecida em Campinas, a Casa Campos.
Outros deputados já me procuraram diretamente ou por meio de seus assessores para que eu também faça pequenas dobradinhas em determinados lugares. Aqui em Rafard recebi a visita do ex-prefeito de Salto Geraldo Garcia (PP). Já recebi gente da menina Talita, candidata federal pelo PV, em Americana; do Bruno Covas (PSDB), ex-secretário do Governo e neto do ex-governador Mário Covas; e o Ricardo Izar (PSD) também quer em determinadas cidades. Mas essa parte prática é meu irmão quem cuida.
O Semanário: O senhor tem recebido apoio dos políticos da cidade?
D’Elboux: Alguns vereadores prometeram me apoiar, não só aqui, mas na região. No entanto, esse trabalho ainda estou fazendo. Não fico preocupado com o prefeito. Ele é um voto só, igual aos outros. Fico mais preocupado em me colocar à disposição para servir a cidade. Tudo vai depender de ele ser um cara de visão, do tipo: “eu não vou votar nele, mas é bom termos um grupo aqui que o apoie, porque por meio dele virão verbas. Ele é ligado à cidade, o pessoal o conhece”.
Ou seja, vai depender da inteligência dos “alcaidas” da região. Se forem inteligentes, receberão a todos e bem. Se forem burros…
O Semanário: Padre D’Elboux, o senhor será engajado em quais políticas públicas?
D’Elboux: Procurando analisar nosso estado, temos problemas sérios que precisam ser melhorados, veja a greve dos professores. Precisamos melhorar a qualidade de vida de nossas escolas, começando com melhorias no salário dos professores. Existe recurso para isso. Agora, com o mau professor devemos ser linha dura, botar fora sem medo. Outra coisa é a segurança. Veja os crimes da nossa região, esses dias mesmo em Rio das Pedras, em Capivari, pelo amor de Deus, né?
E, a questão de saúde. Tanto desvio de verba da saúde. Conversando com muitos médicos esses dias, em Catanduva, me disseram que a manobra com dinheiro existe até em bancos de sangue: “se você pegar desse banco eu deposito ‘tanto’ na sua conta”. Precisamos lutar para que as coisas sejam transparentes e o recurso vá, realmente, nas mãos de quem precisa.
O Semanário: O senhor, enquanto padre, está entrando num “ninho de cobras”. Como será lidar com isso?
D’Elboux: Eu tenho dois colegas que fizeram Jornalismo comigo, na Cásper Líbero. Um deles trabalhou na antessala do Governo Lula, em Brasília, por dois mandatos. Ele sempre dizia: “não entre. É um ambiente sujo, um quer puxar o tapete do outro”. Outra colega é assessora de imprensa de um vereador em São Paulo, e o pai dela já foi vereador. Ela me mandou por escrito: “não entre, você vai ver, você vai na melhor das intenções, porque é um cara justo e reto, mas vai entrar num meio que é uma podridão”.
Sabe, eu estou preparado para isso. Esse desafio é muito grande e bom. Eu vou sabendo que é um ambiente hostil, mas é ali que eu sou chamado numa boa, com muita tranquilidade, com o pé no chão. Nós precisamos dar testemunho cristão lá dentro.
Por isso que eu acho que quem é candidato ou pré-candidato a deputado estadual deve exercer seu mandato, em primeiro lugar, com dignidade e com respeito à coisa pública e à vontade popular, denunciando sem medo os abusos econômicos e as vantagens que podem auferir no exercício do cargo. Se fizer assim, está sendo honesto com ele e com os eleitores. E é isso que nós queremos: mudança para melhor. Não roubar e não deixar que roubem.
O Semanário: Como o senhor avalia a política em Rafard?
D’Elboux: A política em Rafard precisa se abrir. Eu acho que é uma política muito fechada ainda, sabe? Gostaria de ver uma Câmara ativa, cobrando as ações do prefeito, fazendo com que a cidade aconteça – não é coisa pessoal –, conseguindo verbas a nível estadual e federal. Nós temos aqui um nome de respeito, o nome de Tarsila do Amaral. Nós, rafardenses, não explorarmos esse nome, a casa dela. Eu mesmo quis visitar a casa, mas a usina não deixou.
Na ocasião, estava acompanhando um grupo de jornalistas. Um deles, diretor de Jornalismo da Rede Globo, em São Carlos. E não deixaram por mesquinharia. Devemos explorar esse nome. A própria presidente da República levou o Obama para ver um quadro da Tarsila. Volta e meia os jornais, a Folha de S. Paulo e o Estadão, citam a Tarsila. Rafard não tem um quadro original da Tarsila. É uma vergonha. E o pessoal não se interessa. Precisamos de gente que se interesse.
Agora, é um círculo vicioso: a cidade não tem recurso, os vereadores daqui ganham pessimamente, em torno de R$ 900. Então, é aquele negócio, né? Vai se contentando… um prefeito daqui ganha quanto? Uns R$ 7 mil. Quando a pessoa trabalha, que ganhe R$ 10 mil, R$ 20 mil. Mas quando a pessoa não trabalha, R$ 1 mil é muito, é demais. É preciso alguém que vá atrás, que prepare projetos, que vá até o governo federal, ao Ministério de Turismo. Alguém que vá atrás da presidente. Ela é propensa a isso.
Imagine o que nós teríamos se explorássemos, no bom sentido, a presença e a figura de Tarsila do Amaral, nascida em Rafard. Tudo bem, quando ela nasceu Rafard pertencia a Capivari, mas ela é rafardense. Ou seja, nós não valorizamos, no bom sentido, o maior produto que Rafard tem. A Tarsila do Amaral.