O papel do treinador é cada vez mais determinante para os resultados de jogos e campeonatos. Se antes tínhamos em nossa cultura que o bom técnico era aquele que ‘menos atrapalhava’, ou no máximo aquele que ‘arrumava a defesa e deixava o talento decidir livremente na frente’, hoje eles ganham até um protagonismo exagerado, para o bem e para o mal: se vencem são heróis, mas se perdem são vilões.
E já que estamos em final de temporada, momento sempre propício para retrospectivas, balanços e avaliações, dedico os próximos parágrafos a reflexões sobre os principais trabalhos de campo no futebol brasileiro em 2021.
E o ponto de partida para qualquer análise neste sentido é o contexto. Todo clube possui por si só um desempenho histórico médio.
Através da junção, tanto das forças como das fraquezas de todos os departamentos há a expectativa de um resultado. Como em um sistema, todas as peças compõem um todo que transcende as partes individuais.
O bom treinador é aquele que consegue elevar esse desempenho histórico. É aquele que mobiliza todas as engrenagens do clube e as potencializa para renderem mais do que costumam render na média.
Por isso, meus dois primeiros destaques vão para o argentino Juan Pablo Vojvoda, do Fortaleza, e Fábio Carille, do Santos. Eles não foram campeões, mas seus “troféus”, tiveram graus de dificuldade absurdos!
Se no campeonato brasileiro de 2020, a equipe cearense lutou contra o rebaixamento, neste ano conquistou uma vaga na fase de grupos da Libertadores 2022.
É uma gigante mudança de patamar, diante do que o ‘sistema Fortaleza’ tem nas últimas décadas! E paradoxalmente o Santos disputou a final da Libertadores do ano passado, mas as perspectivas financeiras e de montagem de elenco para 2021 eram terríveis.
Aqui vale um recorte diferente, do desempenho histórico anual do Peixe, tendo como base o próprio 2021: escapou do rebaixamento no Paulistão na última rodada, eliminação em todas as Copas que disputou e risco real de queda no Brasileirão.
Neste cenário, Carille chegou e conseguiu manter o clube na Serie A: um baita feito diante das adversidades, que em vários momentos foram maiores interna do que externamente.
E por fim, destaco Abel Ferreira do Palmeiras e Cuca do Atlético-MG que ficaram com os principais títulos da temporada.
Um bicampeonato é sempre complicado, porque além das inerentes questões táticas, é necessário trabalhar o “apetite” dos jogadores, mantê-los com fome para continuarem conquistando.
Abel conseguiu isso e faturou a segunda Libertadores. E Cuca soube organizar os talentos e domar os egos de um elenco milionário e um ambiente sedento e ansioso pelo título Brasileiro, que não vinha há cinquenta anos.
Esses quatro profissionais souberam olhar para o ambiente e extrair o máximo dele nas circunstâncias que tinham. Todo clube tem um padrão financeiro, político, administrativo, estrutural, médico, e por aí vai, que naturalmente ocupa determinado espaço no cenário futebolístico que ocupa. Quem eleva o padrão com o que tem nas mãos merece aplausos!