Ah, que saudade! Que saudade que eu tenho daquele lugar.
Quando eu era criança, não me sai da lembrança, eu vivia a sonhar.
Uma casa feita com carinho, com o suor do paizinho,
Os meus olhos se enchem de lágrimas que nem gosto de me lembrar.
Era quase uma fazenda, quem conheceu ainda se lembra, fica triste em recordar.
Éramos uma família grande, quando crianças foram estudar.
E enquanto o tempo passava, do sítio, eu, papai e mamãe cuidávamos,
A nossa vida estava lá.
Doze vacas de leite, as galinhas viviam soltas.
Um chiqueirão cheio de porquinhos, na ceva um capadetinho para a festa de Natal.
Tinha uma charrete e uma carroça pra buscar milho na roça e trazer lenha no quintal.
Um cavalo bom, marchador, uma égua criadeira, e um burro forte na carpideira que trabalhava a semana inteira; tinha dois bezerrinhos no curral.
Lá em casa tinha uma represa que era uma beleza,
Água pura, da natureza, quantos peixes tinha lá, nossas terras eram tão ricas.
O arroz e o feijão nasciam que só vendo, era só querer plantar.
Era mesmo um paraíso, a estrada lá de casa, eu vou até explicar.
Todo mundo que passava, não tinha quem não gostava, tinha vontade de chegar.
Uma estrada meio curvada, do início até na porta de casa, vocês tinham que ver.
O nosso pai caprichoso, pra deixar o sítio mais gostoso,
Nos lados da estrada ele plantou duas fileiras de pé de ipê.
Seu perfume, uma riqueza quando estavam floridos.
Eles tinham um colorido que de longe podia se ver.
O ipê roxo e o amarelado, era tudo misturado, nunca mais vou esquecer.
O tempo foi passando, meus irmãos quase formados, e nos domingos e feriados eles passeavam pra todo lado, no sítio que era chamado “O Sítio do Ipê”.
Eu não quis estudar, no sítio eu quis ficar,
E o serviço do campo com meu pai fui aprender.
Foi ali que eu conheci a caboclinha, na sombra do pé de ipê,
Aonde, todas as tardinhas, a gente ia se ver.
Mas um dia, quando meus pais vieram a falecer,
Fiquei tomando conta de tudo.
Meus irmãos terminaram os estudos, e vejam o que foi acontecer:
Destruindo minha esperança, eles queriam a parte da herança e precisavam vender.
Um estudou para ser doutor, o outro professor. Um era dentista, o outro engenheiro.
A irmã que mais sonhava, do dinheiro ela precisava pra estudar no estrangeiro.
Estava destruído o meu cantinho! Para que me servia aquele dinheirinho?
Se o meu mundo inteirinho desmoronou por dinheiro.
Eu não podia ficar, e o meu sítio foi parar nas mãos de um fazendeiro.
Seu novo dono, engenheiro de sucesso, homem formado e culto,
Com ânsia de progresso o sítio reformou, modificando tudo.
Alegando antiguidade, quis logo o sítio transformar,
As ideias novas da cidade, no mato iria implantar.
Contratou máquina possante, com ela destruindo minha ilusão.
E com lágrimas brotadas do coração,
Vi destruídas naquele rápido instante,
Nossa casa, nosso sítio e chorei de emoção.
Quando ali hoje eu passo, da estrada logo se vê,
De tudo que era tão belo, aquelas árvores tão lindas,
Hoje, triste e solitário, resta no sítio somente
O nosso último pé de ipê.