A busca pela perfeição sempre esteve presente nas atividades humanas. E isso não é negativo. Mirar a excelência é premissa para o alto desempenho de qualquer profissional. A ‘boa’ ambição é aquela que foca na performance para que o resultado seja o melhor possível.
Trazendo para o futebol temos isso muito aflorado. Até porque se trata de uma competição. Quem chega no alto nível tem uma vontade de vencer intrínseca já muito bem sedimentada.
O problema é só valorizarmos o primeiro colocado. Apenas quem ganha tudo e sempre – mesmo sabendo que isso é impossível – é quem tem valor. Torcida, imprensa e até dirigentes cobram dos profissionais os melhores resultados. Tudo para ontem.
E na maioria dos casos a estrutura e condições oferecidas estão longe de serem de ponta. E nessa cobrança desenfreada, nessa impulsividade e, principalmente, na falta de capacidade de avaliação se o trabalho está sendo bem feito ou não, muitos profissionais extremamente qualificados ficam pelo caminho.
Mesmo sem resultados no curto prazo, um treinador pode estar criando ideias coletivas e sinergias entre os jogadores que vão aparecer muito em breve. Temos paciência no futebol brasileiro não só para esperar, mas ao menos falar sobre isso?! Não creio…
Tite, técnico da seleção, referência por ser o que melhor alia capacidades técnicas com habilidades relacionais, foi criticado veementemente quando o Brasil perdeu a final da Copa América para a Argentina. Não estou pregando que a crítica não deva existir. Pelo contrário.
A crítica pontual, embasada, que toca realmente ‘na ferida’ é super saudável e necessária. Mas dizer que um profissional não serve apenas por um jogo me parece muito simplista, ainda mais lidando com algo tão complexo como o futebol.
Se no Campeonato Brasileiro tivermos os vinte melhores técnicos do mundo ainda continuará sendo apenas um o campeão. E quatro deles serão rebaixados…como não valorizar a longevidade de Luis Felipe Scolari e Vanderlei Luxemburgo neste mercado tão competitivo?! Ou as habilidades relacionais de Renato Gaúcho e Abel Braga, que muitas vezes são mais importantes do que qualquer conceito tático?! E tantos outros profissionais que já mostraram virtudes, mas foram engolidos por essa cultura resultadista…
O técnico perfeito não existe. Sempre há algo a melhorar. Saber olhar qualidades mesmo quando os resultados não estão acontecendo não é trivial. O primeiro passo para isso é observar o jogo com o óculos da complexidade e deixar as lentes do imediatismo um pouco de lado.