18/03/2016
O silêncio intelectual
ARTIGO | Vivemos aqui no Brasil com uma série de despencar: despencar da saúde, despencar da segurança, despencar do alimento na mesa, despencar do progresso industrial, despencar do comércio, despencar do emprego, despencar da educação, etc., etc., etc.
Vivemos, na verdade, como tivéssemos uma mordaça a nos calar a voz e nos alertar do eminente perigo de uma eliminação qualquer: até física.
A juventude não sai às ruas; os desempregados não se manifestam em gritos de “basta” – o povo, em geral e de todos os seguimentos, como cordeirinhos, segue, em infindáveis reclamações ao pé do ouvido, mas pecam em não elevar a voz e pedir mudanças.
Já se sente, na carne, uma recessão abominável – fruto de mal brasileiros ou anti-brasileiros que encheram os seus bolsos com os desvios do dinheiro público e que mereceriam penas mais severas que um pouco de tempo atrás das grades, principalmente com o confisco de bens e a pecha institucional de “ladrão”, “verme”, “parasita” – estampados em sua testa, para conhecimento de gerações e gerações.
Ah! se fosse em outros países, principalmente do Oriente. Mãos ou pescoços já não mais existiam. E nós, brasileiros, não podemos pedir a estes falsos brasileiros que suicidem, porque estaremos, juridicamente, induzindo-os à morte. E seremos processados, como criminosos. Ficamos, assim, refém de um estado miserável, retrógrado, descompassado e perdido no tempo e no espaço.
Somente se ouve uma ladainha interminável de “não sei”, “não vi”, “não tenho conhecimento”, “sou inocente” – aberrações que só servem para ganhar tempo e usufruir, repetimos, do dinheiro público em favor próprio e de seus familiares.
Contudo, honrar-nos, sobremaneira, saber que intelectuais progressistas (e não nos interessa saber se são da esquerda ou da direita), estão com as suas espadas em riste. Mas estão dispersos para um clamor mais acentuado.
Mas o que mais nos aborrece e nos deixa perplexo é o silêncio dos intelectuais – estes que poderiam “botar a boca no trombone” (utilizando uma expressão bem popular), que não se ouve num momento tão desesperançoso como o que estamos vivendo.
Fardados, encastelados, espiando através de frestas e enclausurados, acotovelados em quatro paredes, em seus escritos que nada representam para o país, estes intelectuais são falsos, medíocres e acomodados. Não desejam tomar partido, porque prosperam com um pacote de livros de conteúdo sem qualquer identidade com o nosso país. Imbecilidade, não falta.
Falamos dessa gama enorme de intelectuais, talvez já com as benesses que são possuidores, que se escondem como girafas e não tomam partido em prol da sociedade brasileira. Abominamos tal prática do silêncio, quando o entorno se apavora ante a magnitude do desleixo a que está evidenciado nos momentos atuais.
Cremos, sinceramente, até porque estudamos com extrema dedicação Marx, que ele já estaria dando murros em seu caixão, sabendo de sua frustração de acreditar em tantos aqueles que oravam em seu nome.
Vemos que intelectuais de nome e prestígio, que poderiam dizer “basta”, não querem e não desejam compartilhar com as dores de seus irmãos. Talvez estejam mais interessados em suas medíocres publicações que assolam o mercado livreiro (lixo puro), mas não servem para o fruto saboroso do porvir que tanto imaginamos em prosa e verso. Estes pseudointelectuais não estão comprometidos com as raízes nacionais e o dístico de “amamos o Brasil”.
O silêncio intelectual que falamos, é destes (intelectuais) que cruzam os braços, calam a boca, tapam os ouvidos e fecham os seus olhos. Como bem diria o célebre Astrojildo Pereira (1890-1965) que “é preciso sacudir pelas entranhas os cegos que não querem ver e os surdos que não querem ouvir. Entre outras razões, porque não queremos que o Brasil se transforme num país de mudos”. É que nos causa espécie esta indiferença de tantos que poderiam se somar a esta gama de idealistas, mas que preferem cultivar e cultuar o silêncio, passando a vida terrena brasileira em brancas nuvens. Lutar, sim, com o que temos em palavras e ações num Brasil que se deteriora a cada momento, sem perspectivas animadoras; muito pelo contrário, em pavoroso futuro.
Há, pois, que pedir a estes intelectuais que tomem decisão; não se escondam ante ao problema visível; percam o medo de ser povo; produzam palavras que agreguem aos interesses legítimos de nós brasileiros. Aproveitem o dia 13 vindouro e façam presença na mídia e nas ruas. Isto tudo, antes que seja tarde demais.