“ainda que rujam e se perturbem as águas, ainda que os montes se abalem, sempre haverá um Rio cujas correntes alegram a cidade de Deus…” Salmos 46:3-4
– I –
Nas grotas e veredas, tuas nascentes
teus espelhos e plácidas margens
tuas mágicas correntes e cachoeiras
de retinas brilhantes e cristalinas
serpenteando por meandros indecisos
com fintas caprichosas e repentinas.
Orvalhos de Hermon, cedros do Líbano
lírios do campo, Estrela da Manhã
(Sombras Sublimes da Onipotência)
prados e colinas, ricas fauna e flora
alvas torrentes de “wasserfall”
guirlandas, plântulas e dosséis;
janelas pretéritas do tempo:
“verde que te quiero verde,
verde viento, verdes ramas”
lendas selvagens, duendes imaginários
avencas, orquídeas e púrpuras bromélias
passifloras silvestres, flores do japindá
malváceas vaidosas e retintas catleias
aconchegos e relvas, encantos do manacá
travessuras e diversões coloridas
nos tapetes verdes das saias do jatobá!
De repente, bem de repente
Dum ramo frágil e pendente
despenca uma linda flor:
— Deixa-me aqui – ela clamava,
flutuando triste a chorar
— fui nascida nesta aldeia,
não me leves para o mar!
Paladino de esperanças inúteis
vestido de lembranças e solidão
singro tuas águas há muito navegadas;
elas não se represam, nem se repetem
jamais serão as mesmas de outrora
quarta dimensão, o tempo, este impostor…
sombras augustas, meditações etéreas
cintilações, cores e brilhos cambiantes
quietude – no silêncio, uma voz misteriosa
aquele mesmo hálito, o mesmo perfume;
pedras que andam e dividem o tempo
pedras ousadas, pedras polidas
pedras agudas, pedras angulares
pedras lisas cansadas da vida…
Deparo a perversa ponte – de incautas travessias
andantes e amantes da noite – não os vejo mais
insisto: quem sabe os encontre nas esquinas da vida
com suas antigas charretes e decrépitos animais.
Pássaros aflitos e feridos
em tuas margens esquecidas
de flores banais e decadentes
onde ainda voam e repousam
borboletas em pousos displicentes…
Tuas montantes e jusantes
jamais serão como dantes
romperás barreiras
escarpas e rochedos
cruzando fronteiras
e contrastes imensurais,
seguirás destinos atlantes
aos mistérios abissais
do inexorável deus netuno
em soturnos abismais.
— Quo vadis, ó lendário Rio de tempos eternais?
— Onde estão tuas noivas esquecidas, emudecidas?
– II –
Rígel e Bellatrix reinam solitárias na eternidade.
A Lua – tua vizinha, lança seus “flashligths
devassando a escuridão, fingindo vigiar
aldeias e casarões coloniais
que já não existem mais…
Nas manhãs opalescentes, o sol se descortina,
invadindo ramagens e frondescências
aquecendo os frágeis ninhos e repousos
de suas aves orquestrais
que ensaiam os primeiros acordes
e seus voos matinais!