22/04/2014
‘O resultado apareceu’, diz ex-técnico do campeão paulista
Com o título, Capivariano disputa a Série A1 do Paulista em 2015 e garante vaga na Copa do Brasil
CAPIVARI – Como todos os capivarianos estão carecas de saber, o último domingo de março, 30, está eternizado na história do Leão da Sorocabana. A vitória de virada por 2 a 1 sobre o campineiro Guarani, no Estádio Municipal Luís Perissinotto, em Paulínia, concedeu ao Capivariano o acesso inédito à Série A1 do Campeonato Paulista em 2015. Foi o primeiro time a subir, com duas rodadas de antecedência.
O gol que garantiu um novo integrante entre os principais clubes do estado foi feito por Rodolfo Bardella, aos 43 minutos do segundo tempo, empatando com o placar aberto por Eduardo Eré. Silas Brindeiro também já havia marcado, aos 46 minutos do início do jogo.
A campanha sólida, traçada em novembro do ano passado com a contratação do técnico Evaristo Piza, cravou o time de Capivari entre os primeiros colocados já na quinta rodada e refletiu em 12 vitórias, quatro empates e apenas três derrotas, com um total de 29 gols. Um dos clubes de menor investimento (senão o menor), segundo Piza, mas o mais organizado, completa 96 anos em outubro.
Há pelo menos quatro anos, o Leão vem segurando as oportunidades com garras e dentes. Com a chegada do gestor Luís Paulo Santarelli em 2011, o clube conquistou acesso à Série A3. Em 2012, subiu para a A2. Em 2013, o Capivariano ficou a três gols do tão sonhado acesso, adiando para este ano a conquista do principal objetivo: chegar à elite do futebol paulista.
No entanto, o Capivariano havia vencido a batalha, mas não a guerra. Faltava fechar o ciclo com chave de ouro, para iniciar 2015 com maestria, colocando medo nos grandes. No sábado, 12, aconteceu então mais uma vitória. Com a casa lotada de torcedores vermelho e branco (abarrotada mesmo: os cinco mil ingressos disponíveis foram vendidos), o time da terra dos poetas sagrou-se campeão paulista da Série A2.
O uniforme comemorativo com as cores da bandeira de Capivari pode ter dado sorte, mas o principal foi a qualidade presente desde o início. Entretanto, há de se admitir que o primeiro tempo não foi dos melhores. Mesmo com Silas abrindo o placar aos 11 minutos – e não muito depois perdendo um pênalti – os torcedores ficaram com o coração na mão até os 40 minutos do segundo tempo.
Isso porque a Itapirense tanto pressionou que empatou a partida aos nove minutos do segundo tempo. Antes e depois do time visitante, o Leão sofreu com ataques contínuos e bobeou no contra-ataque. Vendo o título escapar devido aos resultados de outras partidas que aconteciam ao mesmo tempo, aos 40 minutos, o time chegou ao segundo gol, com George Minatto. E, nos acréscimos, Rodolfo fez o inesperado terceiro, fechando em 3 a 1.
“Alguns jogadores vieram para fortalecer o elenco que permaneceu. Pedimos uma regularidade dentro da competição e fizemos um bom planejamento, jogos-treinos, e o desenvolvimento deles mostra em números a realidade nossa hoje”, comenta Evaristo Piza sobre o bom desempenho da equipe.
Natural de Campinas, iniciou a carreira de treinador no Nippon Bunri University (Japão) e dirigiu nomes como Paulínia, Portuguesa Santista, Primavera de Indaiatuba, Flamengo de Guarulhos, Corinthians B (Sub-20 do Corinthians), Barretos, Velo Clube e Taubaté. Com o sentimento de dever cumprido, Piza foi liberado e fechou com o Guarani para a Série C. Mesmo deixando claro o desejo de voltar à frente do Leão para disputar a elite do ano que vem, o técnico assinou contrato até maio de 2015 com os bugrinos.
Todavia, em entrevista na primeira semana de abril ao jornal O Semanário, havia dito que estava tranquilo quanto às ofertas de outros clubes, e que não tinha vontade de se despedir do Leão. “Não adianta sair por sair. Se estou num lugar organizado, não tem porque eu querer me aventurar em outra situação”, frisou e ainda completou dizendo que o mesmo iria ocorrer entre os atletas, mas que Santarelli saberia “administrar muito bem isso”.
Silas, por sua vez, segue analisando propostas. Sobre o assédio dos times maiores, o artilheiro de um metro e noventa e um diz que é preciso “levar com naturalidade”. “Sabemos que os interesses vão aparecer, as propostas começam a surgir, mas temos que ter os pés no chão e a cabeça no lugar para fazermos a melhor escolha e darmos continuidade ao nosso trabalho”, esclarece.
Segundo ele, em entrevista ao GloboEsporte.com, Ponte Preta, Vasco e América-MG são alguns dos clubes de olho em seu profissionalismo. Entretanto, a diretoria da Macaca negou qualquer tipo de contato com o atacante e descartou a contratação. De acordo com o codiretor do time, Pedro Nicolau, ninguém conversou com Silas, visto que ele “não é um jogador que faz parte dos planos”.
Para o atacante de 26 anos que marcou nove gols no campeonato – só ficou atrás de Anderson Nunes, do Santo André, com 10 gols – fazer parte de dois momentos históricos para o Capivariano Futebol Clube “é uma sensação única que a gente vai levar pelo resto de nossas vidas”. O jogador, que iniciou a caminhada ainda jovem, aos 18 anos, já jogou pelo Trofense (Portugal), Grasshopper (Suíça), Náutico, Campinense, Brasiliense e Cuiabá.
Do ponto de vista de Piza, contribuir com essas conquistas é gratificante. Para ele, o título é merecido, devido à organização e empenho do clube em todos os aspectos. “É um clube com investimento modesto, mas que cumpre rigorosamente e em dia o que é tratado em termos financeiros”, conta. De acordo com o treinador, os jogadores são bem amparados. “Eles têm boa alimentação e condição para que desenvolvam o que mais sabem fazer. Então, fica fácil. Facilita nosso trabalho dentro do campo”, enaltece.
Afirma, ainda, que o incentivo da torcida foi fundamental. “A cidade abraçou o time desde o primeiro jogo. Querendo ou não são 95 anos de existência, e a primeira vez na Série A1. Acredito que será satisfatório receber grandes clubes do futebol paulista aqui. Pode ocorrer de vir Corinthians, Palmeiras, Santos, São Paulo e isso para a cidade é uma valorização. Para o clube é muito bom e para os atletas é maravilhoso”, conclui Piza.
A vitória por 7 a 6 nos pênaltis do Ituano em cima do Santos no domingo, 13, define o primeiro jogo do Capivariano na Série A1. O campeão da A2 enfrenta o time de Itu no Estádio Carlos Colnaghi e, se a campanha for tão forte e bem estruturada quanto esta última, o Leão da Sorocabana tem tudo para se manter na elite.
Questionado sobre as dificuldades enfrentadas este ano, Piza garante que praticamente não houve. “Foi muito tranquilo. A gente planejou, iniciou, trabalhou. Não tivemos nenhum problema extracampo, de atletas. Teve trabalho, intensidade e comprometimento do grupo. Com isso, o resultado apareceu.”
O Capivariano é uma das equipes mais antigas da Região de Sorocaba, antigamente abastecida pela companhia Estrada de Ferro Sorocabana. A linha ligava a capital ao oeste do estado, chegando até à divisa com o Mato Grosso. Nos anos 50, o clube montou um verdadeiro esquadrão e se tornou praticamente imbatível nos campeonatos do interior, vencendo 32 títulos zonais.
O desempenho deu origem ao Leão da Sorocabana, apelido pelo qual é conhecido até hoje. Porém, o primeiro título profissional da equipe aconteceu há exatamente 30 anos, após a conquista da terceira divisão, em 1984. Para o presidente do time, Osvaldo Riccomini, a Série A2 do Paulista é uma das competições mais difíceis do futebol brasileiro.
“Só tenho que me alegrar por este fato inédito. Montamos uma equipe no começo do ano que sabíamos que tinha capacidade de trazer o título para a cidade. Graças a Deus conseguimos conquistar nossos dois principais objetivos”, declara Riccomini. Além do acesso e da taça, os resultados também garantiram ao Capivariano uma vaga na Copa do Brasil de 2015.
Agora, o time precisa se preparar para o ano que vem, a fim de lutar com a mesma “garra e a força do Leão”. Aos torcedores, fica a missão de acompanhar com ainda mais pensamentos positivos, boas vibrações e sorriso no rosto, afinal, ao que tudo indica, bons ventos sopram a favor do esporte capivariano. – “E a torcida vibra delirante, caminhando com você por toda parte”. É hora de colher os frutos.