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O que vem depois do sepulcro vazio?

Depois do sepulcro vazio vem a admiração, a surpresa e o desânimo. Os discípulos não tiveram capacidade ou coragem para acompanhar Jesus até o final.

A coragem de Pedro sumiu quando a espada foi tirada de suas mãos. Judas saiu em busca de uma alternativa humana, tentando provocar uma reviravolta no céu ou na terra. Os outros discípulos, desanimados, recuaram e começaram a voltar para o que era o normal antes de Jesus.

Sem perspectiva, sem esperança e sem continuidade, ao menos era o que parecia estar acontecendo. Sepulcro vazio. Nem mesmo o lugar onde foi colocado o corpo de Jesus foi respeitado. O que vem depois?

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Nos livros de romances ou de ficção, sempre se espera um final feliz, como solução do mistério, a punição dos culpados, a vitória do herói ou coisas semelhantes.

Entre a cruz e o sepulcro não aconteceu nada disso, ao contrário o vazio do sepulcro tomou conta do coração dos discípulos. Mas estranhamente, no terceiro dia, apesar do vazio e do fechamento, na reunião a portas fechadas, algo novo aconteceu.

O encontro com o Ressuscitado não foi experiência coletiva de natureza psicológica, que fez renascer uma ideia ou um ideal. Quem não foi capaz de enfrentar soldados e opositores na presença de Jesus, seria capaz de defender um ideal arriscando a própria vida? Foi o que aconteceu com os discípulos.

O Evangelho não é um romance, nem filme ou série de TV, e quem quiser conhecer Jesus, deve estar na comunidade, mergulhar na Escritura, na oração, na meditação e nos sacramentos.

A resistência e o medo dos discípulos, assim como o desânimo, foram vencidos quando o Ressuscitado se colocou no meio deles, explicou as Escrituras e lhes deu o dom da paz.

Curiosamente, o túmulo vazio logo provocou, nos inimigos de Jesus, a necessidade de dar uma explicação, a de que o corpo tinha sido roubado. Era mais lógico pensar assim, menos arriscado e mais condizente com o projeto inicial, que era acabar com Jesus e a propagação de suas ideias.

Mas a presença do Ressuscitado na comunidade mudou completamente o rumo dos projetos e pensamentos humanos. O túmulo está vazio não porque o corpo foi roubado, mas porque Cristo ressuscitou e os discípulos se tornaram suas testemunhas.

O anúncio dessa Verdade agora é uma tarefa missionária, que parte da comunidade para o mundo, porque os discípulos foram enviados pelo Ressuscitado. Há uma ligação insuperável entre o Ressuscitado e a Comunidade-Igreja, porque nessa ligação está a garantia da Verdade e do anúncio.

O apóstolo Tomé recebeu o anúncio da ressurreição dos outros discípulos e duvidou, mas quando estava reunido com a comunidade ele viu Jesus e tocou em suas chagas.

O tempo presente também nos pergunta qual o sentido do túmulo vazio e porque a Igreja é necessária para a Salvação. Esse tempo também procura explicar Jesus e o Evangelho de modo mais coerente com a razão e com as propostas humanas.

Apresentando um Jesus mais sorridente, menos radical e mais parecido talvez com os heróis das revistas em quadrinhos.

É missão da Igreja garantir a autenticidade do anúncio pela pregação da totalidade do Evangelho, sem exclusão de partes ou falsas adaptações que põem em risco a Salvação das pessoas. Enquanto batizados e, portanto, discípulos, cabe a nós a vivência da fé e o testemunho do Ressuscitado aos homens e mulheres de hoje.

Dom Devair Araújo da Fonseca
Bispo de Piracicaba

Jornal O Semanário

Esta notícia foi publicada por um dos redatores do jornal O Semanário, não significa que foi escrita por um deles, em alguns dos casos, foi apenas editada.

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