Num certo dia, eu caminhava a passo lento em meu cavalo, já cansado.
E quando a noite começa a chegá.
Resolvi pará.
Tirei o arreio do lombo do animá, deixando livre pra podê pastá.
Preparei um lugar pra me acomodá.
E no tronco, entre duas árvores, a minha rede pude amarrá.
Tava claro, tava dia, e deitado na rede uma buia no mato comecei a repará!
Meu cachorro, meu companheiro, percebeu e foi procurá.
E num demorô pra achá.
Começô a uivá.
Meu companheiro, o cachorro!
Ficou desesperado!
Corria pra lá e vortava pro meu lado.
Chegô a mordê a rede onde eu tava deitado!
Querendo que eu fosse vê o que ele tinha encontrado.
De tanto que me amolô, eu resorvi o acompanhá.
E vê o que tinha de errado!
Segui o cachorro, e naquele capão de mato, fiquei sem sabê o que fazê.
Era beira de estrada, mas num avistei povoado.
Mas o que vi me deixô assustado.
Ali no mato, naquele lugar!
Fiquei bastante preocupado.
Mas que num era pra menos, quarqué um que fosse, ficaria desnorteado.
Naquele lugar deserto, era mato pra tudo lado.
Uma estrada, mais parecia um roçado.
Encontrei uma criança, numa cesta de taquara, bem arrumada.
A criança num chorava, só se mexia, e como o lugar era sossegado, naquela paia seca, acabô sendo notado.
Chamei a atenção do cachorro, meu companheiro, mas fiquei até arrepiado!
A criança se mexeu levantando seu bracinho, pedindo um agrado.
Garrei pensá em tudo, fiquei até assombrado.
Naquele fim de mundo, quem será que deixô essa criança abandonada!
Olhei pro cachorro sentado, que também olhava com seu olhar espantado.
Eu num podia deixá essa criança ali jogada.
Ia morrê de fome, de sede, naquela cesta desconfortável.
Quando eu criei coragem e quis apanhá a criança, o meu cachorro soltô um uivado.
Eu quase morri apavorado!
Senti um calafrio e meu cabelo arrepiado!
Pensei comigo: tenho que enfrentá!
Essa criança nesse lugar, sozinha, eu não posso deixá.
Peguei a cesta de bambu com a criança enrolada, e levei pro lugar onde eu tinha preparado.
Coloquei a criança na minha rede, que dormiu a noite inteira!
E eu fiquei ali acordado.
Não dormi de tão amolado!
Quando foi no outro dia, sem ter os meus olhos pregado.
Fui vê de perto, pra vê se era verdade ou se eu tinha sonhado.
Mas tava ali na minha rede, aquela criancinha, se mexendo pra todo lado.
Resorvi, então, mexê pra ter certeza mesmo, se não tinha sonhado.
Descobri e logo vi que era verdade o que eu tinha encontrado.
Era um menino, e um bilhete do lado.
O menino de novo abriu os bracinhos, e eu acabei criando coragem, e peguei no colo.
Parece até que sorriu de alegria, sentei num barranco perto de uma velha porteira, e comecei abrir o bilhete, pra sabê o que será que tinha escrito.
E no bilhete, encontrei estas palavras:
“Deixei aqui esse menino.
O destino me fez agir assim.
Se alguém o encontrar
Seu nome é Valentin.
Não deixo o meu nome pra ninguém ir atrás de mim.
Que Deus me perdoe
Mas esse é o destino do Valentin.
Na passagem da porteira
No meu sofrimento vou dar um fim.
Se ele for encontrado, que seja feliz.
O menino Valentin…”