Conta o Professor Vinício Stein Campos, em seu livro “O Menino de Capivari” que na década de 30, um vigário de Raffard, o qual ele não declina o nome, projetou uma romaria turística a Santos, a fim de que os fiéis pudessem além de conhecer o oceano, desfrutar de algumas horas de lazer.
Como nessa época a viagem só se fazia por ferrovia, a viagem seria feita por trem da Sorocabana via Mairinque até São Paulo, e da Capital até Santos pela Companhia Inglesa. Contratado o trem especial da Sorocabana, o Padre se pôs a campo a vender as passagens pelo município inteiro, percorrendo os sítios e fazendas, São Bernardo, Itapeva, Forquilha, Sete Fogões, Leopoldina, Barroca Funda, Ponte Alta, Conceição, Rio Acima, enfim, não houve lugar onde não fosse, vendendo em 15 dias todas as passagens de que dispunha.
No dia aprazado para a viagem, o trem lotado, partiu de Raffard, rumo a São Paulo, levando os turistas, e uma banda de música tocando dobrados, para alegrar ainda mais a tão aguardada viagem.
Chegando a Santos, todos estavam ansiosos para ver o mar pela primeira vez, e um morador do bairro Sete Fogões, ao desembarcar, pensou na esposa que havia ficado em casa, pois na véspera, um contratempo de última hora a impediu de fazer tão almejada viagem. O marido até cogitou de ficar com ela, mas não querendo ela estragar a alegria do seu filho que também estava ansioso por ver o mar, fez o marido ir, com a condição de trazer a ela uma garrafa de água do mar, para que constatasse que realmente esta era salgada.
Ao chegar, o pai lembrou o filho do pedido da esposa, e disse: Fio, pegue a garrafinha da sacola e encha de água do mar para levar pra sua mãe, e guarde de volta, tá bom?
O filho, obediente, pega a garrafa, e vai em direção ao mar, junto com o pai, mas nesse momento avistam dois guardas, e pergunta o pai se ele poderia encher a garrafinha de água do mar para levar para a esposa que não pode vir, pois ficou doente…
O guarda, percebendo tratar-se de pessoa simplória, argumentou que não, de maneira nenhuma ele poderia permitir que pegassem água do mar para levar embora, dizendo: – Imagine se todos que vierem conhecer o mar, começar a levar água embora, em pouco tempo não haverá mais água, e o mar vai secar…
Segundo conta no livro, o Professor Vinício, esse caso aconteceu, pois, o próprio personagem contava na viagem de volta para casa, haver enganado o guarda, ficou esperando ele estar bem longe dos dois, e falou para o menino: – Corra lá fio, enquanto o guarda não tá vendo, encha a garrafinha d’água e esconda na sacola…
E assim a senhora que não pode ir ver o mar pode ao menos confirmar que realmente a água do mar era salgada…
COLUNA de autoria de Rubinho de Souza
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