Por Maria Regina Canhos Vicentin
De uns tempos para cá a igreja católica vem dando especial atenção aos casais em segunda união. O número de separações cresceu muito, evidenciando que as pessoas encontram dificuldade em manter um relacionamento que perdure no tempo. As causas para isso são inúmeras, e acho complicado julgar quem quer que seja; tendo em vista que somente os envolvidos conseguem avaliar exatamente como se sentem em relação à situação conjugal, de que forma são tratados, e o quanto isso contribui para o crescimento mútuo ou para o empobrecimento da autoestima, surgimento da depressão ou outros transtornos de ordem psicológica e emocional.
A cada fase do relacionamento afetivo temos desafios a enfrentar. Quando se é jovem, talvez uma das coisas mais difíceis seja romper os laços com a família anterior e sua influência, assumindo a vida de casados: “o homem deixa pai e mãe e se une à sua mulher” (Gn 2, 24a). As primeiras adaptações são dolorosas porque cada qual tem o seu costume; foram criados em famílias diferentes, com prioridades diversas. Passam a assumir muitas responsabilidades que aumentam cada vez mais, principalmente após o nascimento dos filhos. Vai se delineando a forma como o casal preferencialmente se relaciona. Alguns “entre tapas e beijos”, outros “cedendo sempre”, muitos “abrindo mão de seus gostos e desejos”. Aquele amor, aquela paixão inicial, vai dando lugar à acomodação. Passamos para outra fase do relacionamento.
Vencidos os desafios iniciais, no momento em que se encontram aparentemente estabilizados, os filhos crescidos, a vida mais organizada; percebem que já não são marido e mulher há muito tempo. Viraram irmãos, mãe e filho, pai e filha, parentes. O calor que existia no início e aquecia as noites frias não existe mais. Existe apenas uma companhia (nem sempre agradável) que nos recorda sermos casados.
Às vezes, a constatação dessa mudança, por incrível que pareça, é unilateral. Alguém está muito bem; comodamente desfrutando das benesses que acabou angariando com a estruturação do modelo conjugal adotado pelo casal ao longo dos anos. Enquanto isso, alguém está muito mal; sofrendo com a condição que acabou lhe sendo imposta pelo desgaste da relação a dois. Ora, algo precisa ser feito para que não aconteça o pior e sobrevenha a ruptura.
Mas, e quando a voz de um não é ouvida pelo outro? Quando a irritação, a depressão e o abandono não são percebidos? Quando os sinais do desgaste não são notados porque está bom demais para um e ruim demais para o outro?
Aí, infelizmente, é o fim do casamento. E não adianta prantear querendo ressuscitar algo que se foi. Não queira julgar ou arrumar culpados para um problema que nasceu no seio de um arranjo conjugal mal sucedido. Não dá para manter um relacionamento em que apenas uma das partes vive com satisfação. Isso pode até acontecer, mas já não é matrimônio. Assemelha-se mais à prisão ou manicômio. Quem quiser preservar seu casamento mantenha os olhos e ouvidos bem abertos, a sua conduta flexível e o seu coração apaixonado.
Maria Regina Canhos Vicentin (e.mail: [email protected]) é escritora.
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