Como sempre, ao ler Silveira Rocha, por quem sempre tive grande admiração, e que aumenta a cada leitura mais atenta que faço de seu livro “Vida social e política de Rafard”, haja vista que uma coisa é a leitura “en passant” – como diria ele, pela afinidade que tinha com o idioma francês – outra coisa, é a leitura atenta, buscando nos registros históricos e nas estórias contadas pelos moradores mais antigos, novas informações para somar com as informações do livro.
Relata Silveira Rocha, que Henrique Raffard, depois de estudar a geologia do solo daqui, e também estudar a necessidade de corte de algumas árvores, passou a fazer a medição para abertura dos alicerces, e assim começar a edificação do que viria a ser o Engenho Central, o que obviamente exigiu a força braçal de homens dispostos, que numa conjugação de esforços, ajudou a tornar realidade e implantação do ambicioso projeto de nosso fundador.
Confiados no futuro promissor que a construção do Engenho traria, são iniciadas também, as primeiras construções de casas de moradia no entorno do Engenho, onde um dia, a chaminé cilíndrica faria o projeto de Henrique Raffard, ser uma realidade e fonte de trabalho para a subsistência das famílias.
E assim, a medida que a indústria de açúcar se desenvolvia, mostrando toda sua força, através dos resultados de boas safras, trazendo aos moradores, perspectiva de grande êxito, as construções de novas casas também iam desenvolvendo o povoado.
Segundo é relatado no livro, a primeira casa, construída na parte de cima por Paulino Galvão de Almeida França para sua residência, situava-se a poucas centenas de metros, acima do córrego São Francisco, onde anos depois, foi a chácara dos irmãos Moreira, e onde hoje está localizado o loteamento do bairro São Carlos.
O sítio de Paulino Galvão, que depois foi sendo dividido, confinava com as terras, próximas do “córrego do lava pés” – que possui esse nome em virtude de que ninguém conseguia passar pelo local, sem que molhasse os pés, no entanto, há outra versão de que naquela época os jovens que iam aos bailes, nas noitadas capivarianas, para não chegar com os calçados sujos de poeira ou barro em dias de chuva, iam descalços até o lava pés, e ali depois de lavarem os pés, colocavam os sapatos limpos que traziam numa sacola, e assim chegavam com os sapatos brilhando nos bailes.
Essa primeira casa construída em 1876, que foi residência de Paulino Galvão, relata Silveira Rocha, que além de muito bonita, era espaçosa, confortável e tinha uma “sacada” e existia na entrada degraus que davam acesso ao seu interior, tal e qual uma casa de fazenda. Nessa casa, segundo continua seu relato, eram promovidos bailes aos sábados, o que conferia fama e despertava a atenção dos jovens daquela época.
Anos depois, nessa mesma casa, morou Ângelo Andrello – popularmente conhecido por “Naneto” , que lá morou por volta do ano de 1930.
Quando se iniciou a construção da linha férrea, tivemos a construção também de agrupamentos de casas, inicialmente na parte de baixo, e à margem da linha, que são datadas do ano de 1883 a 1886, onde nessa mesma época, tivemos a construção do prédio sobradado (foto) por Henrique Raffard, que serviu para moradia de sua família.
São desses mesmos anos, as casas também em estilo de agrupamento, construídas na rua Tietê, que naquele tempo era conhecida por “Estrada de Tietê”. Quanto ao sítio denominado cascavel, que hoje não existe mais, também localizado ao lado dessa via, relata Rocha, que o mesmo recebeu esse nome por causa da existência de muitos ninhos de cobra dessa espécie no local.
Semana que vem, se Deus deixar, continuo a descrever mais sobre o que li no livro de Silveira Rocha, sobre nossa cidade Coração. Abraço