A Copa do Mundo da Rússia tem reforçado um clichê odioso: (como são odiosos e rasos todos os clichês) não tem mais bobo no futebol. Isso se torna verdadeiro e coerente entendendo o mundo globalizado em que estamos inseridos. O futebol acompanha a evolução natural das coisas e se beneficia da democratização do conhecimento e da informação para aproximar um pouco os que eram antes imensamente distantes.
Qualquer profissional do futebol de hoje consegue ter acesso a maneira como as maiores potências do futebol treinam e jogam. Com dois cliques podemos conferir toda uma metodologia de treinamento e maneiras práticas de operacionalizar qualquer modelo de jogo.
É claro que só acesso a informação não basta. É necessário ter profundos conhecimentos para significar o que é visto e habilidades para implementar de acordo com a própria cultura. Como o próprio técnico José Mourinho diz, a internet é o prato cheio dos preguiçosos. Mas é inegável que conhecer mais sobre diferentes escolas de treinamentos, assistir jogos de todas as ligas do mundo e até mesmo a facilidade no custeio de viagens para mini-estágios com os maiores nomes do futebol mundial tornou mais aptos profissionais de países que antes se viam completamente a margem de um futebol minimamente qualificado.
Por isso, não me espanta ver seleções como a do Japão, da Islândia, da Suiça e até mesmo da Rússia apresentando um jogo de alta qualidade. É evidente que o talento do jogador ainda é o que mais leva a vitórias no futebol. Porém temos visto nesta Copa conceitos, princípios e sub-princípios de ataque, defesa e transições de altíssima qualidade. Destaco linhas defensivas de cinco jogadores, marcando por zona muito bem executadas; me chama a atenção também transições ofensivas executadas com excelência e velocidade suficiente para serem letais. Sem falar nas bolas paradas em que na maioria das vezes a estratégia e o treino coletivo serão mais eficientes do que a própria habilidade natural.
Hoje só não conhece e entende o futebol de alto nível quem não quer e quem não se interessa. Situação bem diferente de quem chega em um evento como a Copa do Mundo. Não creio que uma seleção sem tradição consiga erguer o caneco. Mas que elas vão dificultar a vida das ‘grandes’ isso já não resta dúvida. Estamos vendo diariamente nesta primeira fase.
ARTIGO escrito por Marcel Capretz
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