“Seu moço!”
Vê aquele pedaço de madeira pendurado ali no rancho, e me pergunta.
“Para que serve essa tábua redonda, um eixo de madeira, também esse couro pendurado?”
Seu moço, eu lhe digo:
Há muitos anos, eu trago comigo como recordação.
São dois pedaços de madeira, uma correia e uma fivela.
Vou lhe explicar direitinho, aquele é chamado de banquinho.
Que papai usava todo dia lá na mangueira.
O banquinho de um pé só, muito usado na cocheira.
No banquinho, ele se sentava pra tirar leite.
Com esses pedaços de couro, enroscado no passador da cinta,
Podia andar que não caía.
Pode vê neste retrato, guardei como lembrança.
Isso pode não dizer nada, mas pra mim tem grande valia.
Eu era criança, achava até engraçado
Meu pai andando com o banquinho pendurado.
Um balde de leite na mão, com o leite da Baronesa.
Também levava um par de peia, para prender as pernas da vaquinha.
Eu sempre tomava leite puro, quentinho, já saía direto na minha canequinha.
E assim aprendi a gostar do que meu pai gostava.
Guardo até hoje esse banquinho, que ele sempre usava.
Foi ele mesmo quem fez, vai continuar ali pendurado.
O banquinho do leiteiro, assim era chamado.
Ainda vejo a carroça, o burrinho Brioso, meu pai sentado,
E do lado tambores de leite.
Sempre na hora certa, podia fazer sol, chuva, geada ou cerração.
Saía de madrugada, recolhendo as vacas pro mangueirão.
Dava conta sozinho, sem fazer reclamação.
E ainda levava o litro de leite pra quem fosse buscar no portão.
Com suas botas de borracha, ainda lavava todo o curral.
Deixava tudo limpinho, comida pro gado,
Cada vaca tinha seu cocho.
Depois saía pra cortar capim e trazia no carroção.
Assim, seu moço, era a vida do leiteiro.
Que guardo até hoje, na memória, essa lida gostosa
Do leiteiro da fazenda; fica nos versos o meu sentimento.
Que muita gente até hoje ainda se lembra.
Tá explicado, seu moço. Vejo-lhe até emocionado.
Foi naquele banquinho, sentado, que saiu o sustento.
Naquele banquinho, bem desajeitado, papai ganhou dinheiro
Pra deixar seus filhos todos criados.