Marcel Capretz

O atraso do futebol brasileiro

Marcel Capretz

No futebol contemporâneo, globalizado e acessível a todos que queiram aprender e evoluir, as informações e tendências circulam muito rápido. Com uma pouca pitada de esforço e curiosidade é possível acompanhar o que os melhores treinadores do mundo fazem e criam. Mas mesmo assim, o futebol brasileiro ainda evolui em um ritmo muito lento se comparado aos demais.

Talvez porque a grosso modo ainda não tenhamos tanta curiosidade. Ou podemos ter sede de aprender, mas não beber das fontes corretas de conhecimento, aquelas realmente capazes de fazer nosso futebol melhorar. Podemos, em algum momento, ter a dose certa do desejo de aprender, adquirir conhecimentos válidos, porém pecar na interpretação e implementação dessas informações. Enfim, mesmo com um nível absurdo e inédito de conhecimento disponível, o nosso futebol parece estar sempre defasado ao que de melhor acontece na elite mundial.

Claro que tudo isso se dá por muitos fatores. Mas tenho observado alguns que tem me chamado a atenção. Há alguns anos passamos a devorar a literatura portuguesa, por exemplo. Entretanto com um pouco de atraso. Quando José Mourinho explodiu no cenário mundial obras e mais obras foram produzidas a respeito das ideias e principalmente da metodologia que ele usava para transporta-las do treino para o jogo.

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Só que esse atraso, somado a dificuldade até natural de absorver uma nova forma de enxergar complexamente o jogo e adapta-la as especificidades do cenário brasileiro, fez com que não acompanhássemos essas tendências em tempo real.

Na prática, ainda estamos falando de modelo de jogo, princípios e sub-princípios de ataque, defesa e transições, sendo que a nata do futebol mundial está em um outro patamar. Ao passo que ainda tentamos enxergar no jogo amplitude, profundidade, compactação e etc, os melhores técnicos do mundo trabalham do indivíduo para coletivo. Explico: o foco hoje está em formar jogadores mais inteligentes, que resolvam os problemas do jogo com a máxima eficácia e menor gasto de energia possível.

Outro exemplo: estamos falando muito de intensidade. Equipes intensas, defesas intensas, ataques intensos e etc. Sendo que para nós intensidade ainda quer dizer correr muito; só olhamos para o aspecto físico do jogo. Porém o alto nível mundial fala de intensidade complexa, em que a parte física está aliada a técnica, a tática e a cognitiva.

Um time intenso não precisa necessariamente correr mais do que o outro. Um jogador intenso não é o que mais se desgasta. Ou para você Lionel Messi não resolve os problemas do jogo na mais alta intensidade técnica e mental mesmo sendo um dos jogadores que menos corre em campo?!

Se falo tanto em complexidade não posso pontuar que se melhorássemos só em alguns pontos teríamos o melhor futebol do mundo. É sistêmico, multifatorial. Todavia, se nossos treinadores, auxiliares técnicos e preparadores físicos pudessem acompanhar em cima da pinta o que se faz na elite e tivessem já um conhecimento prévio adquirido para implementar e fazer uma réplica no nosso futebol, claro respeitando nossas especificidades e características, já estaríamos dando um bom passo para a evolução.

Jornal O Semanário

Esta notícia foi publicada por um dos redatores do jornal O Semanário, não significa que foi escrita por um deles, em alguns dos casos, foi apenas editada.

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