Nenhuma visão atual do futebol pode desprezar elementos subjetivos, de “fora” do jogo em si para fazer qualquer tipo de análise. Por mais contraditório que possa parecer com o o atual cenário, onde se estuda muito metodologia de treinamento, modelo de jogo, princípios e sub-princípios defensivos e ofensivos e outros aspectos táticos, é necessário um olhar mais apurado e até humilde – já que no passado isso fez a diferença e era muito mais valorizado – para entender que o conceito ambiente de jogo pode determinar um resultado.
Falo ambiente, mas se dissermos atmosfera, contexto, sinergia, etc, estamos falando da mesma coisa.
Essas relações no futebol envolvem diversos fatores: torcida, história e cultura do clube, entrosamento dos jogadores, bom relacionamento entre titulares e reservas e inúmeros outros elementos que interagem entre si o tempo todo e que podem ser o decisivos para, exemplificando, a cobrança de um pênalti de um time entrar ou sair, ou até mesmo para a conquista de um título.
Como exemplo também cito o atual caso do Corinthians. Só não será rebaixado por conta da química que há em seu estádio entre o seu torcedor e qualquer jogador que vista a camisa do clube. A atmosfera que há ali intimida qualquer adversário. E faz crescer quem joga no Corinthians. Evidente que o melhor time terá sempre mais chances de vencer. Mas em condições parecidas, o Corinthians em sua casa sempre será favorito por conta disso.
Falando de individualidades e não de coletivos: o conceito é o mesmo. Por que Muricy Ramalho quando dirigiu o Palmeiras não teve o mesmo sucesso que teve no São Paulo? Ou o meia Ricardinho, logo após a Copa de 2002, por que não conseguiu jogar tão bem no São Paulo como jogou no Corinthians? Tudo é questão de analisar o ambiente e não puramente a qualidade. Romário sem Bebeto seria o mesmo? E vice-versa? Não havia nessa dupla um conjunto de características técnicas e comportamentais que potencializava ambos?
E dentro desse emaranhado de redes que corta o futebol não posso deixar de citar dois outros componentes: o mental e o ambiente de treino. Deixo algumas questões para refletirmos: o nível de confiança de um jogador interfere na maneira com que ele se apresenta para o jogo, abrindo linhas de passe? Não é mais fácil para um time recuperar a posse de bola se há união e solidariedade entre os atletas? E se no treino não há por parte da comissão técnica um estímulo a competição, ao desafio, a superação, enfim, a busca pelo estado de jogo pleno, apenas a presença do torcedor no estádio fará a equipe se comportar de maneira aguerrida em uma partida valendo três pontos?
São itens para olharmos o jogo por um outro viés. Porque aqui podem estar muitas respostas que buscamos na leitura de um jogo.
ARTIGO escrito por Marcel Capretz
Os artigos assinados não refletem necessariamente a opinião do jornal. São de inteira responsabilidade de seus autores.