Nossa efêmera viagem encerra-se aqui
nesta estação solitária e vazia
meu poema se finda
sem graça, sem rima;
ficarão os aromas de nossos vinhos
que ainda sorvem os sabores
de nossos beijos e amores
também inacabadas nossas melodias
nossos planos, sonhos e fantasias
as lindas flores de finados roubadas
e trocadas no cemitério lúgubre de Allan Poe
os dropes de hortelã que amaciavam nossos lábios
as fogueiras das noites de São João
tudo bem guardado para sempre
no mais íntimo do coração…
Nas minhas velhas gavetas entrópicas
encontrei tuas lindas e longas cartas
fitas cassetes, generosidades duvidosas e alguns LP’s,
perfumados de um pretérito imperfeito:
hoje um entulho descartável, um monturo
que jazem no eterno esquecimento…
Foi sim, num solstício de verão
naqueles desventurosos dias que precedem o Natal
de breves momentos e longo esquecimento
que me quedaram estático e silente
e eu ainda, do teu amor, tão carente!
Guardarei de ti o perfume de tuas roupas
as tuas blusas leves, soltas e descontraídas
tuas botas, saia xadrez e boinas coloridas;
nada mais ficou em tua vida – nada, jamais
dos encantos que os anos não trazem mais…