ArtigosRubinho de Souza

Nos tempos da brilhantina

Hoje, ao acordar, lembrei-me de quando eu fazia Faculdade na cidade de Itu e meus colegas de Capivari, Juvenil Forti, Pedro Angelini, Ricardo Pazzianoto, Darci Gatti tiveram a ideia de cada dia ir com um carro, assim, não ficaria pesado para um só e ninguém pagaria nada.

E, assim era feito. Nosso ponto de encontro era a farmácia de Luís Carlos – “Guincha” – na rua XV de novembro, em Capivari (foto) em frente à casa de Nagib, que não perdia a oportunidade de ir até lá para bater um papo até a hora de sairmos.

Na volta para casa, quando eu chegava, os meus pais já estavam deitados, afinal o horário que eu voltava, era entre meia noite e meia, às vezes quase uma da manhã e minha mãe ao escutar meus passos, me perguntava meio dormindo, meio acordada, se queria que ela levantasse para esquentar algo para eu comer, ao que eu prontamente respondia que não precisava, que podia descansar, pois eu me virava.

Ainda não havia sido inventado o tal microondas, mas ao chegar no fogão, encontrava sempre algo que ela deixava pronto para mim, e, para manter o alimento aquecido, minha mãe embrulhava em guardanapos ou então toalha, mantendo em aquecimento natural o havia deixado preparado. Mal sabia eu naqueles dias, que tudo isso iria, nos dias de hoje, me emocionar, ao ponto de chegar às lágrimas.

Era todos os dias, o mesmo cuidado de mãe, chegava e lá estava minha janta, ainda morninha, toda embrulhada para garantir o mínimo de temperatura. Aquecer a comida é uma obra, quando se é jovem, temos pouca intimidade com ele.

Nessa época, eu morava na rua José Gimenes, nas casas populares, e trabalhava com meu irmão e meu irmão Gerson em nossa barbearia e com essa atividade, paguei minha faculdade e me formei, sem precisar usar o crédito educativo. A anuidade escolar era “salgada” mas, graças a Deus, economizando ao extremo, consegui ir até o final.

Sou do tempo em que as coisas eram difíceis para todos. Não havia moleza para ninguém. Há coisas, que se formos contar a presente geração, não vão acreditar.

Fui criado com a noção de tudo aproveitar, nada podia ser desperdiçado. Tudo era guardado e tinha um propósito, que na hora certa, iria ter seu uso.

Outra lembrança que eu tenho eram as panelas que minha mãe “ariava” para ficarem todas brilhando. Parecia haver uma disputa entre as mulheres daquela época para ver quem conseguia deixar os utensílios de alumínio mais brilhantes, lembro perfeitamente.

Nos tempos da brilhantina
Nos tempos da brilhantina

Os guardanapos de pano, usados na cozinha, quando ficavam encardidos, eram alvejados para serem reutilizados e quando não serviam mais para a cozinha, por estarem muito velhos, virava pano de chão.

Em algumas famílias, os restos de sabão com os quais eram lavadas as roupas no tanque, eram guardados e quando havia quantidade suficiente, eram amolecidos com um pouco de água, fazendo uma bola grosseira que deixava secar, para ser reutilizado.

Sacos plásticos, latas com tampa e muitos vidros eram itens preciosos que se guardava religiosamente para serem usados como recipientes para guardar cereais ou farinha.

Quando se ganhava algum presente, os papéis de embrulho dos presentes nunca eram rasgados, mas tirados com o maior cuidado, alisados e dobrados para serem usados para forrar prateleiras dos armários.

Havia exageros? Não o creio, pois, como já disse, eram tempos trabalhosos e difíceis para todos, dentro das possibilidades financeiras de cada família.

Quando começaram a surgir os descartáveis, foi uma revolução. Muitos viram a oportunidade e passaram a fazer uso e ter mais comodidade, não necessitando reaproveitar muita coisa, mas, em muitas casas, a ideia do descartável, demorou a pegar, principalmente os nossos avós, que não viam isso com bons olhos.

Se contarmos para a geração de jovens de hoje tais práticas, eles fazem cara de espanto e perguntam se éramos tão pobres! Não, pois, a maioria das famílias tinham essa prática. Era o procedimento habitual daqueles tempos…

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