Opinião

Nós não somos cariocas, somos brasileiros

26/05/2014

Nós não somos cariocas, somos brasileiros

Claubijeine Cavalcante é jornalista, bacharel em Direito e diretora de Comunicação da Câmara de Capivari (Foto: Arquivo pessoal)
Claubijeine Cavalcante é jornalista, bacharel em Direito e diretora de Comunicação da Câmara de Capivari (Foto: Arquivo pessoal)

Artigo | Por Claubijeine Cavalcante

Honestamente, quantos de nós gostamos de bossa nova? E o calçadão de Copacabana, desde quando é a nossa praça nos finais de semana? Já nem conseguimos assistir às novelas da Globo. Esta realidade nos violenta diariamente, no final do nosso dia. Ao contrário, deveríamos primar pela leitura de bons livros, pela audição de boa música. E o que dizer de um bom bate-papo com a família e amigos? Sem falar, que nas noites de verão, ainda podemos colocar nossas cadeiras nas calçadas e ver o movimento das ruas. Sim, ainda podemos ver o Brasil que o mundo desconhece.

A triste visão que se tem do país é de que nossas mulheres andam semi-nuas, só temos o futebol como esporte, o samba, o funk e a bossa nova como música, a violência urbana, e tudo o que o Rio de Janeiro da Rede Globo mostra ao mundo.

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Sem bairrismos ou nacionalismos, os “brasis” que cabem no Brasil são muitos e precisam ser considerados ao se retratar nosso país. Estamos sendo desmerecidos, desmoralizados, e a cada dia mais. Andam dizendo que não somos chegados ao trabalho, à produtividade, e que herdamos essa característica dos nossos ancestrais, os índios, que não se encaixavam no formato da labuta Ocidental, trazida com os colonizadores.

Mas vejamos a luta diária das muitas Marias e Joões que povoam o Brasil. Enfrentam a falta de políticas públicas de mobilidade urbana, prejudicados por inesperadas greves de ônibus, cujo sistema defasado chega a impedir o acesso desses sujeitos ao local de trabalho. E como aumentar o potencial produtivo se esses trabalhadores são cerceados da possibilidade de se dedicar a tarefas extras como novos estudos, a ida ao teatro, ao cinema ou maior tempo com a família?

Nesta semana, o sociólogo italiano Domênico de Masi, foi entrevistado pelo jornal Folha de São Paulo. Em seu livro “O Futuro Chegou” (editora Casa da Palavra), de Masi afirma que é admirável o que ele chama de “ócio criativo” dos brasileiros. Para ele, na verdade, é o que importa, pensar mais do que produzir. Lamentável. De Masi deveria ter gasto seu tempo refletindo sobre um Brasil real, e não um Brasil “carioquizado”, a cuja realizada nós não pertencemos. É preciso dizer para o senhor Domênico que ele desprezou a luta das Marias e dos Joões. Ele não botou no papel que o brasileiro de verdade necessita do trabalho e luta por uma vida digna. É nos seus ombros que este país se sustenta, pois o pão que se come aqui, não cresce com o fermento do samba, da bossa nova ou do “ócio criativo”. Ele se levanta com os sonhos dos que desejam uma sociedade justa e ampla. E dentro da nossa diversidade de cultura e pensamentos, quando respeitada, encontra-se sim o brasileiro criativo, mas também, imensamente produtivo.

Jornal O Semanário

Esta notícia foi publicada por um dos redatores do jornal O Semanário, não significa que foi escrita por um deles, em alguns dos casos, foi apenas editada.

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