Nhô Pedro
Nhô Pedro era assim
Trabalhador?
Foi!
No quê?
Não é do meu tempo, não sei dizer
Sua casa, feita de bambu rachado, cipó trançado, barro batido por dentro e por fora
Na parede, uma gaiola
De noite recolhia. Ia dormir quando dava 6 horas
Vivia sentado no terreiro quase o dia inteiro
Ali no banquinho, quando pendia de sono, já ia cochilando, se assustava com os gritos das galinhas d’angola
Levantava bem cedo, jogava milho pras galinhas que nem tinham galinheiro
Elas dormiam embaixo das árvores
Num galho quebrado, enroscado
Galinha cantava, ele já vinha com os ovos que acabara de ter botado
As galinhas faziam seu ninho no mato
Algumas na jaca, pendurado, ou na cesta velha de bambu
Quando as galinhas gritavam era porque já haviam botado
Então saía desesperado
A unha do dedão vivia preta de picar fumo
E a mão amarelada de esfarelar o fumo que picava
Vivia falando sozinho, ninguém sabia o que falava
Se era com uma pessoa do outro lado que conversava
O dia inteiro com o jiboião nos ombros, um couro bem trançado
Muito usado por boiadeiros
Nhô Pedro foi um homem forte
Como já disse, trabalhador
Avô do meu pai
Irmão do meu avô
Nhô Pedro, meu bisavô
Com o peso da idade, um pouco resmungão
Já não gostava de crianças por perto, mas não batia, não
Muitas vezes andava por todo lado resmungando
Quando perguntavam o que estava procurando, respondia:
“Quero meu jiboião!”
Olhavam e diziam: “está aí no seu ombro!”
Esquecido
Mexia com a cabeça e se ria
Agora você tá aí pensando: “que estranho este conto caipira”
Mas se mora por estas bandas não se admira
Procure fazer o bem, fazer amizades e até ajudar, se o seu coração sente
Pois neste lugar já nasceu, viveu e morreu tanta gente
Pois não estranhe
“Nóis” pode até ser parente