Fechado há mais de sete anos para visitação, o Museu Municipal Júlio Henrique Raffard, no Centro Cívico Major Pires de Campos, vê a história de um povo ser consumida pelas traças e descaso dos governos municipais. Hoje, o espaço é mais reconhecido como a Casa de Leis do que sua verdadeira destinação, guardar a história e incentivar a cultura no município.
A última notícia que remete ao funcionamento do museu municipal, data de março de 2013, quando um conjunto de esculturas do artista Geraldo Albertini passou por restaurações, feitas por Ivênio Pires, na época, responsável pelo espaço.
O jornal O Semanário teve acesso ao museu que recebe o nome do fundador da cidade, Júlio Henrique Raffard, e constatou o abandono. Peças históricas, fotos, obras e móveis que fizeram parte do desenvolvimento do município, se misturam a sujeira e falta de manutenção do prédio, que em vários pontos, está com partes do forro no chão e outra pendurada nas estruturas.
Porém, essa história parece estar próxima de mudar. Na última semana, Irani Forti e Pasqualina Boaventura de Almeida se reuniram com autoridades municipais para cobrar a reabertura do espaço. Durante a sessão ordinária da Câmara de Rafard, na terça-feira (4), os vereadores Wagner Bragalda e Angela Barboza disseram que o governo municipal garantiu que o museu será reativado no mês de aniversário da cidade, ou seja, em março.
Na tribuna livre, o presidente do Legislativo, vereador Marco Brigati, completou que recebeu Irani e Páscoa nesta semana com a reivindicação de reabertura do museu. Segundo o parlamentar, a Prefeitura de Rafard já levantou os custos para dar andamento às reformas.
Questionada sobre o assunto, a Prefeitura de Rafard confirmou que “a intenção do governo municipal é reabrir o museu no mês de março (aniversário da cidade) e pra isso já deu início aos trâmites de contratação de empresa responsável pela reforma/restauração do prédio”.
No entanto, o Executivo alertou que “resta aguardar que o processo seja concluído a tempo, cientes de que em muitos casos o andamento não depende 100% da prefeitura”, finaliza a nota.
Triste histórico
No país, há 3.879 museus catalogados no Instituto Brasileiro de Museus (Ibram). Destes, há diversos relatos de unidades que tiveram que encerrar suas atividades por falta de recursos para se manter ou dificuldades estruturais. Não existe um levantamento oficial sobre museus fechados no Brasil.
Para o diretor do Museu Nacional da República – localizado em Brasília -, Wagner Barja, a falta de incentivo por parte do poder público faz com os museus tenham de optar entre fechar as portas ou funcionar de modo precário.
“A situação é complicada, porque as instituições precisam manter o patrimônio, cuja manutenção não é barata, com verbas reduzidas. O poder público precisa entender que o acervo é uma fortuna, com um imenso valor histórico e valor pecuniário altíssimo. É preciso valorizar os museus”, diz.
Outra dificuldade, segundo o Cofem (Conselho Federal de Museologia), é a burocracia nos repasses feitos às unidades.
“As instituições culturais públicas estão presas à estrutura administrativa governamental e, por isso, não são independentes. Quando a verba chega, já desgastada pela burocracia e pelo contingenciamento, nem sempre conseguem administrá-las adequadamente porque já chegam insuficientes”, pontua.
Grande parte dos museus brasileiros são públicos e relacionados a uma esfera – municipal, estadual ou federal. O órgão superior responsável por cada unidade é quem encaminha as verbas para a instituição. Museus particulares também costumam receber verba pública, por meio de leis de incentivo.
O Cofem ressalta que as verbas repassadas aos museus são destinadas somente às atividades básicas para funcionamento do local.
“É necessário também haver recursos para o desenvolvimento de novos projetos, visando à adequação das áreas, especialmente para a salvaguarda de acervos que exigem condições especiais de armazenamento.”