“Crianças não têm medo da morte. São os adultos que transformam o morrer em uma questão obscura. Com isso, criamos pessoas ansiosas, que não sabem perder”, explica a psicóloga Sílvia Coutinho, especialista em cuidados paliativos pediátricos e adultos (www.metropoles.com).
Precisamos falar sobre a morte sempre, porque é uma coisa inevitável para todos nós. E essa crise da pandemia causada pela Covid-19 trouxe mais reflexões sobre o tema.
O jornal O Estadão, numa pesquisa com mais de 1 mil pessoas em todo o país, constatou que “70% dos entrevistados com mais de 60 anos afirmam que estão refletindo mais sobre a finitude da vida e 70% daqueles acima de 45 anos acham importante organizar testamento e plano funeral. Mas, como reflexo do tabu, apenas 30% já começaram de fato esse planejamento”.
Diferente das doenças crônicas, como o câncer, para as quais se podem estabelecer os cuidados paliativos, essa doença do novo coronavírus é muito rápida. A morte é um problema dos vivos e no momento atual apresenta um aspecto incomum em sua atuação cotidiana, com o surgimento abrupto de um número assustador de óbitos, em curto prazo, quando se considera a família e amigos dos que falecem e a invisibilidade do morto, que não recebe visitas, com sepultamento solitário.
Nesse sentido, todos nós devemos meditar que podemos retornar mais cedo para a vida espiritual, e precisamos conversar e fazer declarações antecipadas de vontades ou testamento vital, onde a pessoa esclarece sua vontade ou não de ser levada e mantida em uma UTI, ser submetida a procedimentos de ventilação mecânica, tratamentos dolorosos ou extenuantes, ou mesmo a reanimação na ocorrência de parada cardiorrespiratória.
Pode-se, ainda, tratar de assuntos como: doação de órgãos, determinar que o corpo seja enterrado ou cremado, cerimônias fúnebres, outorgar mandato para alguém de confiança para gerir e administrar seus bens e haveres, etc.
Outro aspecto a refletir sobre a morte diz respeito à situação financeira da família e dos bens. O juiz de direito aposentado, Donizete Pinheiro, esclarece: “Deixar a família com a situação financeira e social equilibrada é também uma manifestação de amor. Afinal, vivemos num mundo em que morar, comer, se vestir, estudar, ter saúde e lazer fazem parte do bem-estar da pessoa”.
Boa parte da população teme a morte e diz que deseja morrer repentinamente, o que não é bom para o espírito, que é surpreendido. O que seria então uma boa morte, uma passagem tranquila? Morrer idoso, com saúde, sem sofrimento, rodeado de quem se ama, depois de ver os filhos e netos crescidos. Sim, isso seria o ideal. Mas, nem sempre é da forma que se deseja.
O espiritismo ressalta a importância da educação sobre a morte, começando a tratar sobre o assunto já na evangelização da criança, e não como tema proibido nem como sinônimo de destruição e aniquilamento, mas de transição, pois para aqueles que vivem corretamente e no bem, ela é calma e feliz, assemelhando àquilo que acompanha uma noite de sono, com um despertar sereno.
ARTIGO escrito por Arnaldo Divo Rodrigues de Camargo é especialista em dependência química pela USP/SP-GREA. Os artigos assinados não refletem necessariamente a opinião do jornal. São de inteira responsabilidade de seus autores.