Opinião

Mortalidade ou Imortalidade da Alma

07/08/2015

Mortalidade ou Imortalidade da Alma

Artigo | Por Leondenis Vendramim
Leondenis Vendramim é professor de Filosofia, Ética e História (Foto: Arquivo pessoal)
Leondenis Vendramim é professor de Filosofia, Ética e História (Foto: Arquivo pessoal)

Vamos perambular pela ágora, onde se discute a respeito da imortalidade da alma. Um tema mui falado e acordado, contudo assaz carente de estudo e entendimento. Quando o filósofo e teólogo Dr. Oscar Cullmann escreveu sobre isto recebeu uma saraivada de críticas. Espero por idênticas reações, mas deixo claro que não tenho, nem de longe, intenção de ofender quem quer que seja muito menos atacar qualquer religião, como Cullmann não teve. Não tenho veia apologética. Convidamos aos leitores a se despirem das ideias preconcebidas a fim de raciocinarem com afinco, nas assertivas exaradas por filósofos, cientistas, teólogos e escritores bíblicos, a fim de firmar sua crença própria em alicerces mais consistentes. São Paulo diz: “Examinai tudo e retende o bem” (1Tes 5:21).

Em 1894 Baird T. Spalding (1872-1953) escreveu em 5 volumes “Vida e Ensinos dos Mestres do Himalaia – os Avatares da Índia e do Tibete”. Segundo a crença dos brâmanes e hindus Avatar é a reencarnação de Deus (Buda é um Avatar, Jesus é outro, e quando vier o 10º Avatar destruirá o Mundo). Os Avatares são indestrutíveis aparecem e desaparecem e viajam como raios, penetram e habitam todas as coisas e pessoas; assim todas as coisas, animais e humanos são deuses (adoram ratos, vacas…). Os homens são partes de Deus, portanto imortais, quando da morte, o corpo volta para Deus, purifica-se dos pecados que os contaminaram e renascem centenas de vezes. Os escritos budistas e bíblicos são inspirados e importantes, porém a Bíblia “contém falsos profetas e traduções erradas por isso é inferior”. Citam como erro (Gn 3:4-5) “certamente não morrereis” e “sereis como Deus” e corrigem: “sois Deus; certamente não morrereis”. O homem, dizem eles, não foi feito à imagem e semelhança de Deus (Gn 2:7), ele é Deus. É a encarnação de Deus; a carne morre, mas a alma (divina) não morre. Essa crença hindu foi encontrada entre egípcios e persas do tempo de Zoroastro e influenciaram no pensamento grego. (ver “Fellow Travelers of Spiritualism”, LeRoy Edwin Froom.

Dr. Samuele Bacchiocchi escreveu: “O ponto de vista clássico da natureza humana deriva dos pensamentos de Platão, Aristóteles e dos estoicos”. No platonismo o corpo (soma) é componente material, temporário, essencialmente mau, enquanto a alma (psichê), ou a mente (nous), é espiritual eterna e boa. O corpo é transitório e mortal enquanto a alma é permanente e imortal. “Por ocasião da morte a alma é liberada da prisão corporal…” Imortalidade ou Ressurreição, p. 10. Na morte a alma se liberta dessa cadeia, volta para o mundo das ideias e da perfeição, onde reaprende tudo o que é bom e volta para Terra para praticar o bem, formando um ciclo de encarnação e desencarnação (ler “Mito da Caverna”.

Santo Agostinho (século 4), os filósofos e teólogos da escolástica, principalmente Tomás de Aquino, foram muito influenciados pelo pensamento grego. Na Idade Média os homens crédulos, extasiavam-se com contos mirabolantes de viajantes sobre sereias, monstros, menino-peixe imortal, sobre o paraíso guardado por leões enormes no reino de Preste João, terrificavam-se diante do imaginário inferno. Esses relatos divulgavam a filosofia da vida pós-morte, no inferno ardente e do céu de vida passiva e contemplativa. E não era só o populacho, o filósofo inglês Francis Bacon (1561-1626) chegou a dizer que quando o galo fica velho põe um ovo só, e desse ovo nasce uma serpente; que a astrologia devia ser depurada, mas não rejeitada. Descartes (1596-1650) queria investigar ervas e pedras miraculosas da Índia, ver a ave Fênix e outras maravilhas da magia. Dante Alighieri (1265-1321) escreveu a “Divina Comédia”, uma descrição imaginária do inferno onde as almas são queimadas e torturadas no fogo eterno sem se consumirem; escreveu também sobre o limbo, purgatório e paraíso. Os medievais tinham tanto medo do inferno que os padres enriqueciam-se e à Igreja com a venda de indulgências. Os religiosos venderam até um ovo e duas penas do Espírito Santo, o vento que soprou na caverna de Elias, tanta madeira da cruz de Cristo que dava para construir um navio.

Jornal O Semanário

Esta notícia foi publicada por um dos redatores do jornal O Semanário, não significa que foi escrita por um deles, em alguns dos casos, foi apenas editada.

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