ArtigosRubinho de Souza

Minha tamareira

Dia desses, ao olhar no meu canteiro de plantas do meu quintal, vi uma planta diferente que não conseguia identificar que planta seria aquela, e somente depois de muito pesquisar, descobri tratar-se de um pé de tâmaras, a minha tamareira.

Depois de muito pensar, lembrei o que ocorreu.

Sempre que vou ao mercado, compro uma bandeja da fruta processada e pronta para degustação, e, displicentemente peguei da semente e a enfiei na terra, sequer imaginando que ela poderia um dia germinar. E ela germinou e deu uma planta de um verde vivo…

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Quando vi aquela planta diferente no meio das outras, cheguei a imaginar que fosse um tipo de coqueiro ornamental que veio com a terra estercada que meu amigo Reinaldo – que planta atrás da igreja – me havia trazido. Mas não era. Fiquei curioso para saber que planta era e após muita pesquisa, descobri que tinha em minha casa um pé de tâmaras.

A tamareira segundo apurei, é uma das mais antigas espécies de palmeiras que se tornou famosa não somente pela doçura de seu fruto, considerado por alguns como o caramelo da natureza, mas também por essa sua característica de demorar muitos anos a frutificar, o que fez originar o popular ditado árabe que diz ‘quem planta tâmaras, não come tâmaras’. Uma vez que as pessoas que plantavam as Tamareiras, respeitando o tempo de crescimento natural da espécie, passavam a vida toda cuidando dessa árvore, não com o foco no consumo próprio, e sim, preocupados em deixar o fruto dela para as gerações futuras, numa atitude realmente empática que prevaleceu por muitos e muitos anos, tornando este um ritual simbólico e gentil entre as gerações, naquelas terras.

Minha tamareira
Minha tamareira

Bem, se isso for verdade, não alcançarei o tempo dos frutos da minha tamareira, mas já degustei muitos frutos que vieram de árvores plantadas por pessoas que também plantaram para as próximas gerações, pois, sabiam que chegariam a colher os frutos das que plantaram e mesmo assim fizeram a semeadura para outros que viessem após eles, mostrando empatia para com o seu semelhante.

Nossas vidas são passageiras, pois o tempo não espera por ninguém. Hoje, a minha arvorezinha está com cerca um palmo e meio aproximadamente, e, na verdade parece difícil de acreditar, mas daqui a 100 anos, é provável que alguém leia este texto e procure o local onde está plantada a minha tamareira para confirmar o meu relato e quem sabe possa até a vir saborear de seus frutos…

Em nosso cotidiano, nos preocupamos apenas conosco, com nossas posses materiais, gastando tempo e energia buscando coisas, construindo, adquirindo e vendendo, quando tudo aquilo que temos, na verdade nada nos pertence de verdade, tudo é emprestado.

Ao partirmos, outros ocuparão nossa casa que tanto lutamos para conquistar, usarão nossos pertences, muitos de nossos tesouros sentimentais irão para o lixo. E, pessoas desconhecidas ocuparão nossos lugares, seguindo seus caminhos, sem se importar com nossa memória.

É triste, pensar que seremos esquecidos e substituídos por desconhecidos que ainda nem nasceram, mas talvez isso seja um desperto para todos nós, para nos conscientizarmos, de que o verdadeiro sentido da vida não está nas coisas materiais que possuímos, mas sim naquilo que deixaremos de bom pelas nossas ações. Aí está o segredo, aí está o segredo da vida…

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