Opinião

Minha infância

“Os Poetas são as antenas do mundo” – Ezra Pound

Capivariano, por mercê de Deus
perguntes, mas não insistas:
estudei na Escola Mista
da Fazenda Boa Vista;
fui criado no meio do mato
já peguei berne e carrapato
e muito bicho de pé
caçava pombas e juritis
e também maracambé
que matava nossas galinhas
lá no rancho de sapé.

Infância estreitinha e machucada:
descalço, roupas de saco
tingidas de retinto azul anil
brincávamos – sol aos 40°,
nas sombras de um pé de abiu;
minha querida mamãe:
– vai buscar água, meu filho,
na barroca, na gruta do funil;
água límpida e fresquinha
subindo morro, espinhos nos pés
sem da sorte reclamar;
mais tarde: – agora, meu filho
vai na encosta da cana nova,
serralhas frescas buscar
com polenta e ovos fritos,
pra nossa fome saciar!

Publicidade

Aos domingos de manhã
íamos no ribeirão mariscar
eu de um lado, co’a cesta na mão
e do outro, o meu querido irmão
levando uma garrafa de cachaça Rosa
a mais preferida, predileta e gostosa
para o Anastácio bebericar
peneirando sob os capinzais,
traíras, bagres e mandis,
algumas cobras no meio,
muitos camarões e lambaris;
cada mariscada, nossa alegria,
e ele, sempre um gole a tomar;
agriões nativos, nos álveos do ribeirão
verdejantes que nem o mar
vínhamos lotados de peixe e camarão
para a nossa casa almoçar…

Antiga Escola Mista da Fazenda Boa Vista - Capivari/SP
Antiga Escola Mista da Fazenda Boa Vista – Capivari/SP

Relembro as flores lilases dos rubis
de folhas macias e delicadas
que trazem lembranças da infância
um perfume forte quando maceradas
(um santo remédio para cortes e feridas)
onde pousavam as solitárias mamangavas
em busca de seus néctares prediletos
em voos e sobrevoos nonstops
aos seus ninhos recônditos e secretos.

Até a Escolinha Mista
na Fazenda Boa Vista
com os irmãos Azolini:
Vilma, Cezário e Nice,
driblando ferozes cães vizinhos,
relvas, guaxumas e joás bravos
caminhando quilômetros a pé
aprendendo as primeiras letras
na famosa “Cartilha Sodré”.

De Capivari, na primeira jardineira
do saudoso “João Esquerdo”
vinha que nem um raio
trazendo nossa Querida Professora
Sara Fernandes Sampaio
filha do ilustre mestre e professor
Cherubim Fernandes Sampaio
(orador, crítico literário e jornalista);
saudosos tempos áulicos:
tabuadas e lições de aritméticas nos ensinava,
histórias do Brasil e seus brasilíndios;
e no pátio da escola, lindas flores plantava!

Nesta vida ninguém passa
sem algo de si a deixar
que sejam bons legados,
de lições e aprendizados
dos outros também levar…

Por Dario Bicudo Piai, engenheiro e perito judicial

Jornal O Semanário

Esta notícia foi publicada por um dos redatores do jornal O Semanário, não significa que foi escrita por um deles, em alguns dos casos, foi apenas editada.

Artigos relacionados

Botão Voltar ao topo