Rubinho de Souza

Meus presentes de fim de ano

Tenho reiteradamente publicado aqui que passei a maior parte da minha infância no bairro do Padovani, onde meu pai tinha barbearia que ficava logo abaixo do bar do Zé Castro, ali na rua Castro Alves, rua onde eu vi colocar rede de água, esgoto e depois de algum tempo o asfaltamento.

E, sempre nesta época de final de ano em que as crianças esperam ganhar seus presentes, a maioria dos meus colegas daquele tempo também queriam ganhar algum, mas como éramos todos filhos de pais pobres, eles não tinham condições de comprar presentes para todos filhos, visto a prole ser numerosa, o que demandaria boa soma em dinheiro.

Para contornar a situação, a gente fazia nossos brinquedos. Um pegava uma lata vazia, redonda, quase sempre de leite ninho e enchia de areia e passava um arame bem no centro para simular um eixo e o arame era ligado a uma lata quadrada de óleo de cozinha também cheia de areia e estava pronto nosso trator ou caminhão que à medida que deslanchava, deixava seu rastro nas ruas de terra do bairro.

A imaginação corria solta na mente dos meninos, enquanto as meninas tinham a ajuda das mães para fazer suas bonecas de pano entre outros brinquedos.

Alguns meninos com mais idade, iam até a oficina de “Mau Moreira” e pedia se ele nos dava algumas rolimãs. E o Mau Moreira nunca nos negou. E lá íamos todos correndo, cortar uma tabua em formato retangular para fazer nosso carro de corrida. Depois de pronto, alguns mais atirados, iam até as ruas de Rafard já com asfalto, pois aí era a maior sensação. O problema era o Comissário de Menores de Capivari que vinha a Rafard com uma perua Veraneio e parava no meio da rua e confiscava todos os carrinhos que pudesse pegar, porque quando a gente percebia a perua chegando a toda velocidade, quem era mais rápido, juntava o brinquedo embaixo do braço e dá-lhe correr…

Meus presentes de fim de ano
Meus presentes de fim de ano

Alguns faziam brinquedos para brincar dentro de casa os quais eram de madeira em formato de uma caminhonete e dois carretéis usados já resolviam o problema das rodas traseiras e também dianteiras.

E o divertimento era garantido com criatividade e coleguismo, pois os que tinham mais habilidade, ajudavam os outros a construírem os seus brinquedos. E trocávamos de brinquedo uns com os outros sem que houvesse qualquer problema.

Até elogios a gente recebia de algum adulto, ou mesmo de nossos pais que às vezes nos dava uma dica para que pudéssemos aprimorar nossas criações. Uma delas foi colocar freios nas rodas traseiras dos carrinhos para evitar de ter que colocar o pé descalço no asfalto e ralar o calcanhar para eventual necessidade.

Ainda que tínhamos os brinquedos feitos por nós, sempre alguma alma bondosa avisava a criançada que dona Benedita Aprilante Vigoritto, e o sr. Genaro Vigoritto fariam distribuição de presentes às crianças na Praça da Bandeira, bem em frente da casa onde moravam. Mas, tinha que ir bem cedo. Era impressionante o número de meninos e meninas que se aglomeravam ali na Praça, à espera da saída do sr. Genaro e dona Benedita com vários sacos enormes, cheios de brinquedos que traziam de São Paulo.

E assim, todos iam felizes para suas casas, pois alguém se lembrou de alegrar seu final de ano.
Por tudo e muito mais, não tem como esquecer desses “anjos” que fizeram a felicidade de muitas crianças carentes na mais pura e feliz fase de nossas vidas.

O melhor de nossa existência é quando temos em nosso ser a pureza da criança.logo do fundo do baú raffard

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