Você já julgou alguém? Aposto que sim, e muitas vezes. Todos nós já fomos qualificados por outrem, e todos já apreciamos outras pessoas, “desde sempre”.
Julgar faz parte do raciocínio humano, é um dom que os racionais têm. É necessário avaliar pessoas e coisas. Avaliamos uma casa, um animal, um produto quando pretendemos fazer a compra: vale à pena? Posso comprar sem ultrapassar o meu orçamento? Está caro, é apresentável? Situações com as quais se deparam devem ser pesadas a fim de não ficar em sinuca ou frustrado.
Todas as jovens sentenciam: ele é bonito, ou é feio. É bondoso e agradável, ou não. Será um bom esposo. O bom administrador examina seus pretensos funcionários.
São avaliações necessárias que se façam. Emilson dos Reis, na Meditação de 26 de abril de 2023, diz ser “impossível viver nesse mundo sem efetuar julgamentos.”
Jesus nos aconselha ajuizar os profetas e seus ensinos através de seus procedimentos para saber se procedem de Deus ou são lobos disfarçados em ovelhas para enganar os incautos. (Ibidem) “Pelos seus frutos os conhecereis. Colhem-se uvas dos espinheiros, ou figos dos abrolhos?” (Mat. 7:15-16).
Lucas, o escritor de Atos dos Apóstolos, julgou os bereanos mais nobres que os tessalonicenses porque recebiam com prazer a palavra de Deus e a examinavam cada dia nas Escrituras se as coisas eram assim. (Atos. Ap. 17:11)
Ninguém resolve um problema sem estudar se as possíveis resoluções serão satisfatórias. Enfim, estamos constantemente julgando. Tudo o que é preciso e possível julgar sem culpa, é evidenciado, está à mostra e é público.
No entanto, o ser humano é mais rápido em condenar alguém por algum ato ou fala, ou ainda, por seus trajes. Certa feita, em Campinas, um agricultor, vindo da sua pequena fazenda, entrou numa concessionária para verificar os carros.
Como estava aparentemente malvestido, sujo pelo trabalho da roça, não lhe deram atenção. Ele saiu de lá contrariado e entrou noutra revendedora. Bem atendido, comprou um automóvel para sua esposa e uma caminhonete para uso pessoal.
Ao vê-lo com seu carro novo, o gerente da loja anterior perguntou-lhe: Por que não veio à minha loja? E a resposta perturbadora: eu fui, mas não me deram atenção porque estava com traje do trabalho.
No sermão do Monte, em seu mais longo discurso, Jesus falou: “Não julgueis para que não sejais julgados.” (Mat. 7:1) Psicólogos afirmam que, acusadores ao observar os outros, veem neles os defeitos de caráter que eles próprios possuem.
Certa vez, no escritório da Usina de açúcar da então União S. Paulo, um advogado (omito de propósito o seu nome), ao ver um jovem entrar, sentenciou: “Você casou com fulana porque ela tem casa e carro, não é?” Ele confirmou os psicólogos, pois ele havia casado com a filha de um dos homens mais ricos de Rafard. “Aquele que é culpado de erro, é o primeiro a suspeitar de erro.” (O Maior Discurso de Cristo, p. 126)
Os perspicazes em observar os defeitos alheios perdem de vista o amor a Deus e ao próximo, tornam-se de coração pétreo e mordazes para com os outros, e indulgentes para consigo mesmos, criam regras para os outros e os vigiam.
Eles revestem-se de dignidade e arrogam-se a cadeira de juízes, espias e críticos, penetrando no íntimo pertinente à consciência e no seu relacionamento com Deus.
Não é possível conhecer os meandros pelos quais os avaliados passaram na sua vida, saber as influências recebidas, nem estão ao nosso alcance os segredos do coração alheio.
O Espírito Santo nos esclarece que o nosso coração nos engana a nós mesmos, mais do que todas as coisas. “Quem o conhecerá?” (Jer. 17:9). ‘És inescusável quando julgas, ó homem, quem quer que sejas, porque te condenas a ti mesmo naquilo em que julgas a outro; pois tu, que julgas, fazes o mesmo’. (Rom. 2:1) “Ao condenarem outros, estão sentenciando-se a si mesmos; e Deus declara justa a sentença.” (O Maior Discurso de Cristo, p. 124)
Por que reparas no cisco que está no olho do teu irmão, mas não percebes a trave que está no teu? (Mat. 7:3) Assim, fofocar é mais grave (uma trave) comparada à falta de caráter descoberta (um cisco).
Os críticos e os que divulgam as falhas alheias estão fazendo a obra do Acusador, tornam-se inimigos de Cristo. “Representam mal o brando, cortês espírito do evangelho, e ferem almas preciosas, por quem Cristo morreu… Cristo é a única verdadeira norma de caráter, e aquele que se põe como padrão para os outros, está se colocando no lugar de Cristo” (O Maior Discurso de Cristo, p. 125) É o pecado que leva os homens a conhecerem o mal; tão depressa o primeiro par pecou, acusaram um ao outro. (Idem, 126)
Jesus advertiu os fariseus, que tinham como tarefa criticar os outros: “Hipócrita, tira primeiro a trave do teu olho, e então verás claramente para tirar o cisco do olho do teu irmão.” (Mat. 7:5) É semelhante ao caso da mulher que foi à casa da vizinha, amiga, notou vidraça da janela empoeirada, escreveu na mesa “Porca”. Ao sair tirou os óculos, e notou que eram seus óculos que estavam sujos.
Antes de sentenciar os outros examine-se introspectivamente. Aquele que não tem pecado, atire a primeira pedra. (João 8:7)